Balança Descalibrada!



O Pico começou o ano, em gíria de bom português popular, com o pé esquerdo. A Cofaco, empresa de elevada importância para o emprego da ilha do Pico, anunciou o que há muito se vinha a especular, o encerramento, “possivelmente” temporário, da unidade fabril sediada no concelho da Madalena.
Deste “possivelmente temporário” encerramento, resulta um despedimento colectivo e efetivo de 180 trabalhadores, que veem desta forma terminar o seu vinculo contratual, um vinculo, que em muitos casos se traduz no rendimento “total” de uma casa visto os elementos do casal serem ambos trabalhadores desta empresa. 

Além da certeza do encerramento e do despedimento coletivo dos 180 trabalhadores, fica apenas a promessa verbal, de uma possível (re)contratação de alguns destes trabalhadores caso se venha a confirmar a construção da nova unidade fabril. Um projeto estimado em 6 milhões de euros, entregue em Dezembro de 2017 para acesso ao apoio a fundos comunitários. Só com a aprovação deste projeto, é que, segundo os responsáveis da Cofaco, se verificará a possibilidade desta unidade fabril voltar a laborar. 

Desde o encerramento da unidade fabril da ilha do Faial em 2010, à 7 anos atrás, que se ouve falar da “necessidade” da construção de uma nova fábrica na ilha do Pico. Em 2012, Luís Silva, então presidente da Câmara Municipal de São Roque, disponibilizou no “imediato” a cedência dos terrenos necessários para a nova unidade fabril, algo que caiu como uma bomba no “seio” do Concelho da Madalena, local onde a fábrica operava à mais de 50 anos e que levou José António Soares, ainda Presidente da Câmara da Madalena, a afirmar que ainda nada estava decidido e que a decisão da localização seria tomada com base em critérios técnicos. (RTP Açores, 14 de Fevereiro de 2012). O que é certo, é que nada foi feito na altura e tudo permaneceu como sempre esteve, levando a esta “triste” situação em que 180 famílias vivem desde o inicio de 2017, altura em que foi anunciado que a fábrica iria fechar para obras, levando desde então, os trabalhadores a temerem que o processo fosse uma justificação para a fábrica não voltar mais a laborar! Contudo, em 2015, na unidade fabril de Rabo de Peixe, ilha de São Miguel, a Cofaco também foi alvo de uma remodelação num investimento de cerca de 8 milhões de euros, mas ao contrário do Pico, aqui não houve despedimento coletivo. 

No rescaldo dos últimos dias, o Governo Regional já afirmou estar “atento” ao desenrolar dos acontecimentos, afirmando mesmo, que não recusa nenhuma das suas ferramentas disponíveis para o apoio à Cofaco mas que não se pode substituir a esta empresa no que confere à situação dos trabalhadores. Isto porque, a Cofaco não é uma empresa em insolvência e porque existe um compromisso da empresa em voltar a readmitir parte dos trabalhadores, ficando estes, durante o período de encerramento abrangidos pelo apoio do fundo de desemprego. Contudo, e em sentido contrário, a Sinaga, empresa que foi adquirida pelo Governo Regional,  viu em 2017, 40 dos seus trabalhadores terem acesso a contratos de cedência por interesse público, com o Governo Regional a “intrometer-se”, e bem,  nas questões da salvaguarda dos interesses dos trabalhadores.

Mas existem questões que hoje ficam a pairar no ar. O que levou a Cofaco a “rejeitar” os terrenos oferecidos em 2012 no Concelho de São Roque para a construção da nova unidade fabril? Porque razão as soluções no Pico foram diferentes das soluções encontradas noutras ilhas? Serão os 40 trabalhadores da Sinaga mais importantes que os 180 trabalhadores da Cofaco? Que garantias existem da Cofaco em como os trabalhadores serão readmitidos ou qual o número efetivo para as re-admissões? Não poderia a nova unidade fabril ter sido projetada nos terrenos oferecidos pela Câmara Municipal de São Roque permitindo que os trabalhadores continuassem a trabalhar na Madalena até à sua conclusão? Porque razão, sendo a intenção da Cofaco de voltar a laboral com os mesmo trabalhadores, não é assinado um protocolo de “re-admissão”?  Porque razão, o Governo não garante junto da Cofaco (dada a sua positiva relação) um compromisso /protocolo para a re-admissão dos trabalhadores?

Começa a ser necessário definir um plano económico e estratégico que permita, de certo modo, salvaguardar não só os impactos negativos desta realidade na economia local, mas principalmente, que vise salvaguardar a vida e o respeito pelos trabalhadores que se encontram nesta situação de desemprego. Trabalhadores que são “lançados” num processo habitual do liberalismo sem fronteiras que teima em “brincar” com as vidas das pessoas!

É importante, cada vez mais, que empresas que usufruem de “apoios” governamentais tenham que cumprir determinados requisitos. Não permitindo por isso, que se criem situações desniveladas de negociação, e muito menos, que se criem situações “monopolizadoras” da vida das pessoas.

Esta situação que hoje se vive, é uma situação de extrema importância para a realidade desta ilha, falamos de uma empresa que é responsável por cerca de 8% da população ativa do Pico, que tem uma forte componente exportadora, mas que, infelizmente, tem vindo de forma gradual a “eliminar” a sua posição no triângulo, primeiro no Faial e a agora, mesmo que provisoriamente,  no Pico.


No final, ficamos apenas na certeza, que as nossas esperanças não estejam enganada!





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