Resposta a José Gomes Ferreira em "Economia toda ganhou com as reduções salariais"


Perdoem-me a minha ousadia, quiçá a minha falta de consciência em comentar alguém como o “Escritor, Subdirector e Jornalista de Informação da SIC”, José Gomes Ferreira- alguém que eu até tenho alguma consideração – mas desta vez o sentimento de indignação falou bem mais alto. Ler na entrevista do “Noticias ao Minuto” de 16 de Maio de 2014 que a “Economia toda ganhou com as reduções salariais fez-me questionar sobre qual a economia que o Dr. José Gomes Ferreira está efectivamente a falar? Se está a falar da mesma economia portuguesa em que eu e tantos portugueses como nós vivem! Mas vai ainda mais longe ao dizer que “Se, individualmente, os trabalhadores perderam e os empregadores, que pagaram menos, pouparam, visto pelo lado macroeconómico acho que ganhamos todos com esta correção”. E é aqui em que acredito que o seu conceito de “ganho” tem de obrigatoriamente divergir do meu, na esperança que o Dr. José Gomes Ferreira não esteja a utilizar o conceito económico de perda de bem-estar social «onde não interessa o lado [de quem paga ou de quem recebe] em que fica a unidade monetária, desde que essa mesma unidade não se perca», pois seria no mínimo insensato e totalmente descabido e irreal para a nossa situação económica e social. Colocar no “ombros” dos trabalhadores o peso da salvação (por redução de custos) de uma entidade privada e/ou pública é como «sacudir a água do capote» dos verdadeiros decisores e/ou culpados (Gestores, Administradores e até Políticos). Mas defende a sua posição afirmando que “O Estado pagava acima do que podia” e “todos os outros agentes económicos empregadores também acabavam por ter um nível salarial acima do que toda a economia poderia pagar”. Creio que é importante relembrar que o nosso «grande salário mínimo» situa-se actualmente nos 485€ e que os ordenamos médios acima do que a economia consegue pagar situavam-se em 2010 nos 777,00€ e que sempre foram possíveis de suportar (pelo menos no sector privado), o que o Dr. José Gomes Ferreira não refere é nos excessivos maus investimentos e consequentes más gestões que tanto as entidades públicas como as privadas foram fazendo com os megalómanos montantes que receberam nos anos dourados pós-revolução (lucros por parte dos privados e os fundo europeus por parte do Estado), que em vez de reinvestidos na economia de forma eficiente foram simplesmente gastos de forma insensata e até supérflua (ou distribuídos pelos accionistas no caso das entidades privadas).


Por outro lado, esqueceu-se de referir ao questionar, “Quantos restaurantes em Portugal não tinham viabilidade, que se mantinham abertos devido a um tipo de clientela que era mantida com um nível de pagamento através do grande regulador salarial, que é o Estado, e que não tinha dinheiro para pagar aquele nível de salários?”, sobre quantas adjudicações de obras públicas foram efectuadas pelo «governo» pelo simples interesse pessoal? Ou até, sobre quantos cargos foram criados e ocupados no estado por favorecimento pessoal (mesmo sem haver necessidade para tal lugar)? Ou, sobre os maus gastos ou gastos supérfluos a cada mudança e manutenção de governos? 

Permitindo-me agora questionar também, se não terão sido essas magnitude a razão da fragilidade da capacidade de pagar esses avultados vencimentos a que se refere, que criarão por consequente o efeito de bola de neve? Se o dinheiro jorrado à rua nas PPP’s (mais uma vez governadas e geridas por alguém pertencente a um ou outro partido politico) não serão também por si uma das causas de tal fragilidade?



E permita-me quase terminar, utilizando a sua expressão de que “nós todos somos patrões, somos patrões das pessoas que lá trabalham, todos nós contribuintes somos patrões dos funcionários públicos” que se essa imagem (hoje) fosse efectivamente verdadeira e real, os actuais governantes já teriam sido despedidos e (mesmo que sem justa causa) com as actuais leis do trabalho e com a facilidade de despedimento não havia nada que travasse tal cenário. Metade das autoestradas não teriam sido construídas (porque todos viram que não faziam falta, excepto, quem as mandou construir), e a maioria dos contratos com as PPP’s já tinham sido anulados ou reformulados tal como as alterações das leis gerais do arrendamento. Ainda continua a achar que somos todos patrões? Ou somos apenas “os pagantes” das despesas de um grupo social fechado liderado por partidos políticos em favorecimento de homens e mulheres que são «Políticos de Profissão»?


Dr, José Gomes Ferreira – acreditando eu que o sabe tão bem quanto eu – a economia é uma politica social que lida e afecta directamente a vida das pessoas, e olhar para essa “economia” na vertente exclusiva dos lucros independentemente das consequências sociais causadas a terceiros, torna todo o seu raciocínio de «Ideal de Governo» na melhor das hipóteses incoerente. E com todo o acesso à comunicação social que possui, deveria no mínimo ter mais cuidado para não ofender aqueles que recebem o salário médio nacional (ou abaixo desse) dizendo que recebem mais do que deviam e que “ganhamos todos” quando vão passar a receber menos do que o valor que mal lhes chega para sobreviver (não para viver).

Lisboa, 16 de Maio de 2014

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