Quem perdeu nestas Europeias? A democracia!

De entre os mais variados sorrisos e das mais variadas visões associadas aos resultados das eleições europeias do passado domingo «25 de Maio» (da “pesada” derrota do PSD à “fraca” vitória do PS), surge a necessidade de realçar a “estrondosa vitória” do PA - Partido da Abstenção, face a pesada derrota da democracia. Perdeu a democracia, ao atingir o ponto máximo de “orgulho nacional” de mais de 66% de abstenção, como que se o ato de simplesmente não votar - onde 2/3 da população não votou - fosse realmente um ato de preocupação para com os direitos anteriormente conquistados. Como se esse ato significasse na verdade alguma coisa!?

Deixar o “poder” de decisão a favor de terceiros foi no mínimo um ato de desleixo e quiçá de mera cobardia, preferindo os seus autores, usar a famosa expressão de salvação: «A culpa é de quem os colocou lá, por isso é que eu não vou votar!», como que transferindo a responsabilidade para os cidadãos que cumprem e desempenham o seu dever cívico. Talvez a falha tivesse sido da própria organização, talvez se as urnas de voto estivessem em locais como por exemplo o palco principal do Rock In Rio, os cidadãos que tiveram de dormir na rua ou que estiveram horas intermináveis à espera para estar na fila da frente a ver o Robbie Williams ou a Ivete Sangalo não tivessem que abdicar desse direito/dever cívico!

A despreocupação existente (e que tem vindo a crescer de forma exponencial) associada à cada vez maior aceitação de partidos de extrema-direita é um facto que por si só já representa uma pesada derrota, uma derrota capaz de anular qualquer motivo de festejo das eleições europeias - isto, caso os partidos políticos a concorrer tivessem realmente interesses puros e sinceros no que concerne ao equilíbrio social em vez do simples interesse de ocupação de lugares como se tratasse de uma mera prova desportiva - muito menos depois de um deputado alemão do NPD (Partido Nacional Democrático – Partido Neonazi alemão) ter sido eleito com 1% dos votos, ou seja, 300.000 votos (agindo a Europa e os seus cidadãos livremente abstencionistas tão normalmente a este facto, que demonstra porventura o esquecimento de que Hitler foi também ele eleito).

Mas não podemos de forma alguma responsabilizar única e exclusivamente os contribuinte que exerceram esse direito” de abstenção. No fundo, temos de refletir e repensar toda a política que tem tido nos últimos anos o efeito de afastar a população das suas obrigações cívicas e democráticas – como o ato de votar – descredibilizando e alterando todos os princípios subjacentes à democracia. 

Mas o pior é que desta vez, fomos “nós”, o Povo, que ao boicotar as eleições (não abrindo o local de voto ou mesmo não comparecendo como ato de protesto de modo a que outros não pudessem votar) que retiramos o direito ao voto de cada um de nós, promovendo e abrindo o caminho para a depreciação do que hoje consideramos como algo fútil, o poder de decidir em quem queremos eleger! A ignorância de tamanha estupidez (perdoem-me os seus causadores) elevou os ideais de liberdade conquistados no passado à mera nulidade de opinião. E não nos podemos esquecer que o voto é um direito da liberdade, e que é no voto que estão expressas a nossa liberdade de decisão e de eleição, e se nos retiram/roubam a nossa forma de poder transmitir a nossa opinião nada mais é do que um ato de censura, e nestas eleições, as freguesias de Serpins (Lousã), da Gemieira (Ponte de Lima) e Mosteiro de Fráguas (Tondela), entre outras, podem muito bem queixar-se de “Censura Popular”.

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