Mais vale uma corda no pescoço!

Da inconstitucionalidade à incoerência de governação, passando mesmo pela incompreensão da realidade económica, de uma coisa é certa, as expectativas numa política e num conjunto de medidas que promovam realmente o crescimento económico são relativamente nulas neste momento. Na verdade, já nada espanta sobre as decisões tomadas, a persistência em medidas de austeridade como solução já estão mais que vistas que não produzem resultados sólidos, mas que mesmo assim, continuam a ser aplicadas.

A chantagem promovida pelo circulo de governação para que o tribunal constitucional aprove certas medidas do orçamento contra o risco de aumento de outros impostos (Segurança Social, IVA, etc) é no mínimo dos mínimos o mesmo que atar uma corda ao pescoço das PME's que dificilmente têm sobrevivido. O agravamento do consumo interno é intrínseco a essa medida, e quer se queira quer não, a verdade é que mais de metade da nossa economia é movida por esse mesmo mercado. As empresas exportadoras não serão (sozinhas) a nossa salvação, e com estas medidas de austeridade estas empresas vão sofrer um retrocesso ao percurso "excepcional"que têm vindo a desenvolver até aqui (mesmo em períodos de crise, como a que estamos atualmente a viver). Vão sair prejudicadas e o resultado será obviamente um acentuar do desequilíbrio da nossa balança comercial externa (algo que tinha vindo a ser uma das pequenas grandes vitórias da nossa economia). As importações tenderão a aumentar e como resultado, os escassos recursos ainda existentes, acabarão também por sair! A economia paralela tenderá a aumentar fortemente a sua existência, a cada vez maior taxa de imposto promoverá uma cada vez maior fuga aos impostos que será o fomento de uma redução marginal da receita fiscal - algo que parece não estar nos meandros do conhecimento do nosso circulo de governação, a tão famosa curva de Laffer - e a redução marginal da receita fiscal, além de ineficiente poderão provocar inércia no que concerne ao seu principal objectivo, o crescimento económico!

O défice da divida (e está mais que na altura) deve começar a ser combatido através do aumento de uma "receita real", uma receita que permita ser obtida através do aumento real da economia e não do estrangulamento a que a mesma tem vindo a ser submetida.

Entristece o país, entristece o contribuinte e entristece a própria economia.

As constantes medidas de austeridade impostas têm sido alvo de constante polémica e de muita discórdia, a atenção com que se denota o esforço de redução dos custos de produção (muita vezes através da redução nominal do próprio salário) esbate-se com os constantes aumentos dos impostos, o <EURO português> torna-se a cada medida aplicada mais caro que os restantes "euros" dos outros países europeus! O que acaba por prejudicar as empresas nacionais que competem diariamente com as restantes empresas europeias.

As constantes receitas "estruturadas" não têm tido os efeitos práticos necessários num mercado extremamente exposto à globalização, e por mais que se contestem cores partidárias, a realidade é só uma, o governo não tem em concreto nenhuma solução certa e adequada para o real problema económico do país. E nesse sentido, vai camuflando essas dificuldades com uma taxa de crescimento do PIB altamente inflacionada através de receitas únicas extraordinárias provenientes da venda de património público e de empresas públicas que poderiam até ter o "beneficio" de sucesso - note-se que segundo Adam Smith, os privados não têm interesse em mercados que geram prejuízo, o que me leva a crer que as empresas públicas que têm sido vendidas com demonstrações de interesse de várias entidades poderiam, se bem geridas, ser capazes de ser altamente rentáveis -, o que causará no futuro a extinção das receitas daí provenientes. O governo demonstra a sua máxima do <vão-se os anéis mas ficam os dedos>, esquecendo-se que os dedos da economia portuguesa, são dedos cada vez mais velhos, cansados e desapoiados quando comparados com os dedos ágeis e altamente protegidos dos restantes países europeus, o que torna ainda mais difícil a sua sobrevivência.

E se nada mudar nas medidas implementadas para esta suposta salvação, mais vale um golpe de misericórdia que provoque uma "morte" rápida das PME's, do que uma corda ao pescoço que tem sido esticada gradualmente provocando um sofrimento continuo a uma morte já anunciada, mesmo apesar das "boas novas" ironicamente declaradas pelo governo!

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