A Europa antes e depois de Syriza
A Europa da prosperidade e da solidariedade entre países
ricos e países pobres terminou em 2008 com a crise económica americana. O
conceito europeu de igualdade e repartição de riquezas deu lugar a sete anos de
austeridade económica, de incessantes desconfianças entre os seus Estados
Membros e ao aparecimento dos «fantasmas» da 2ª Guerra Mundial (através de
partidos de extrema direita neonazis). Os défices orçamentais que foram
atingidos não apenas à custa da «(des)governação orçamental» mas também das “rápidas”
medidas de igualdade social e de infraestruturas entre estados-membros que a UE impôs, levou a que países economicamente
menos desenvolvidos, por vezes até chamados de países pobres da Europa (Portugal, Irlanda, Grécia, Espanha e Itália), efetuassem investimentos através
do acesso a financiamento externo, elevando de tal forma o seu défice que o
tornaram insustentável. A Grécia, o caso mais grave de défice, viria a ser o
epicentro de todas as políticas de austeridade da TROIKA e apesar dos resultados
constantemente negativos, que afundaram o país para um poço sem fundo de
endividamento, mantiveram-se intransigentes na aplicabilidade das suas
«receitas» o que originou o aparecimento
de uma dívida equivalente a 175% do PIB em 2013 (face ao valores iniciais de
109% do PIB em 2008).
Porquê?
De uma forma simplificada, a TROIKA é uma organização
conjunta entre BCE, CE e FMI, que concede apoios financeiros reembolsados num
prazo bastante curto e com uma taxa de juro que varia entre 5,5% e 7,5% ao ano.
Conjuntamente, eliminam a autonomia orçamental por parte do governo local,
ficando esta organização com o poder de decisão, o que lhes permite aplicar
sistematicamente políticas de austeridade e de liberalização de sectores
estratégicos, ou seja, privatizações de empresas públicas. O problema principal
nas suas medidas surge na ótica da descredibilização da «economia interna» como
fator essencial da recuperação económica, para apostarem na competição das
exportações (usualmente através da redução de salários) o que causa danos
colaterais graves a qualquer economia que já se encontre frágil!
Hoje, passados cinco anos de politicas de austeridade onde os
resultados foram negativos, nomeadamente a taxa de desemprego que passou dos
7,7% (2008) para os 26,7% (2013) , levou a que a Grécia desse o grito de
revolta dando um voto de confiança à extrema-esquerda – Syriza –provocando uma
“onda” de confrontos diretos entre BCE, UE, Alemanha, TROIKA e o atual governo
grego. Acontece, que a Europa tem mais a perder do que a Grécia que já não nada
tem a perder, e todas as economias mundiais temem o colapso da economia grega e
do seu efeito de contágio que caso aconteça poderá arrastar a Europa para uma
recessão económica sem precedentes. Yanis Varoufakis é conhecedor desse receio
mundial, e nesse sentido, tem um trunfo para a renegociação do novo método de
pagamento da divida grega, as «obrigações indexadas ao crescimento económico»!
Medida que permitiria à Grécia uma maior capacidade para o cumprimento das suas
obrigações sem prejudicar o crescimento da sua economia. E apesar dos
constantes ataques iniciais, a verdade é que os parceiros da TROKA já começam a
ficar convencidos (com exceção da Alemanha que se tem mantido intransigente)
que esta até é uma medida com vários interesses mútuos.
O Syriza apresenta hoje uma mudança no paradigma nas
negociações para as receitas de austeridade da UE, demonstrando “que quem já
não tem mais nada a perder pode ser um inimigo feroz de quem ainda nada perdeu”
(Sun Tzu). Resta agora, aos restantes países intervencionados pela TROIKA aliarem-se
a este movimento de mudança, procurando defender os interesses dos seus
habitantes face aos interesses daqueles que os têm economicamente explorado, e
quem sabe, se isso acontecer, Portugal e os restantes países possam começar a
cumprir com as suas obrigações financeiras de uma forma justa, digna e sem
diminuição da qualidade de vida!
Taxa de
desemprego
|
||
Grécia | Portugal | |
2008
|
7,7
|
7,6 |
2009 | 9,5 | 9,5 |
2010 | 12,5 | 10,8 |
2011 | 17,7 | 12,7 |
2012 | 24,2 | 15,7 |
2013 | 27,2 | 16,3 |
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