E o Óscar vai para…

Em semana de Óscars tenho de demonstrar o meu desagrado pela escolha de alguns vencedores, principalmente, na nomeação de Melhor Argumento Original. Esqueceram-se completamente de Portugal e daqueles que eu considerava como principais candidatos!

O vencedor de Melhor Argumento Original “Birdman ou (A Inesperada Virtude da Ignorância) ” do realizador Alejandro Iñarritu, apesar do seu excelente trabalho, não pode ser comparado com o filme “Nós Não Somos a Grécia!” do realizador e ator Pedro Passos Coelho sobre um governo que demonstra uma cegueira política e económica de um drama de milhares de famílias e que roça mesmo a comédia no seu lado mais obscuro.

O “Nós Não Somos a Grécia!” consiste num trabalho que tenta desvirtuar a realidade socioeconómica de um país que se encontra à beira do colapso e em que os seus governantes tendem a não aceitar a sua realidade, defendendo sistematicamente, medidas de austeridade impostas pela Alemanha e pelos membros do Eurogrupo. Este filme conta com a participação da atriz Maria Luís Albuquerque (que eu considero que deveria ter sido também nomeada para o prémio de Melhor Atriz Secundária pela cena em que se distancia de Yanis Varoufakis no combate à austeridade, eliminando assim o apoio à Grécia) e de Jean-Claude Juncker (que apesar da sua emocionante cena de discurso de arrependimento e de verdade económica sobre as imposições europeias de medidas de austeridade, em que diz: “Àqueles que pensam que excessiva austeridade leva automaticamente à melhoria da economia e à criação de postos de trabalho, devo dizer-lhes que devem abandonar essas ideias. O desaparecimento do défice e da dívida não leva automaticamente ao crescimento, ou a Europa estaria a crescer imenso”, tende, no meu ponto de vista, a não ser muito convincente, não merecendo por isso qualquer nomeação).

Mas, a maior falha nas nomeações dos Óscars vai mesmo para a nomeação de Melhor Ator, em que o vencedor foi Eddie Redmayne do filme “A Teoria de Tudo”. Para mim, ou não fosse eu português, o vencedor ficava também em terras lusas, elegendo o ator Pedro Passos Coelho do filme “Nós Não Somos a Grécia” pela cena em que assume uma credibilidade e seriedade enorme quando compara os resultados de evolução económica entre Portugal e a Grécia, indicando mesmo, que estaríamos melhor do que estávamos em 2009! Esta cena demonstra mesmo a capacidade cinematográfica da ficção portuguesa, na qual conseguem camuflar indicadores económicos, como por exemplo, a taxa de desemprego em que apresentam um valor aproximado de 13% quando na verdade, se encontram próximos dos 22% a 25% (6% a 8% de emigração e 2% a 4% da população desempregada que se encontram em estágios e cursos do IEFP), o Défice Orçamental que apesar do combate através de receitas extraordinárias de vendas de bens públicos aumentou cerca de 1% face ao início de 2014 (perspetivando que no próximo ano de 2015 o défice dispare exponencialmente) e o próprio Saldo Migratório com valores negativos de 36.2% (com a agravante da emigração ser de mão-de-obra qualificada – licenciados.)


O “Nós Não Somos a Grécia!” peca apenas pelo seu final previsível, um final a que nos apercebemos desde o início da sua visualização, e que consiste na total destruição dos vários sectores económicos e sociais de Portugal, motivo pelo qual, não mereceu ser sequer considerado para a nomeação de Melhor Filme!


«Publicado no Jornal o Dever»

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