A economia açoriana e o fim das quotas leiteiras!
A
economia açoriana e o fim das quotas leiteiras!
A
eliminação das quotas leiteiras faz do ano de 2015 o ano da mudança para o
sector do leite europeu, uma mudança que afetará em escala superior a Região
Autónoma dos Açores (R.A.A) que detém sobre este sector um peso superior a 20%
da sua economia global. O Leite, é de tal ordem importante para a região que ao analisarmos os dados económicos desta
atividade verificamos que no período entre 1992 (ano da assinatura do tratado
de Maastricht) e 2014 sofreu um crescimento de produção (em litros) superior a 600%, o que fez com que a R.A.A. passasse a
assumir em 2013 um peso aproximado de 33% da produção nacional de leite (aumentando
a posição em mais 11% do que em 1996, altura em que era responsável por 22% da
produção nacional). Em Junho de 2014, foi identificado que os Açores eram a
região portuguesa com maior número de produtores de leite (2.802)
correspondendo a 43,5% do total de produtores nacionais.
O
fim da quotas leiteiras antecipam um futuro de “livre competição”, onde a
teoria da “oferta e da procura” vai liderar um mercado frágil com os produtores
nacionais a terem poucas capacidades de competir através do factor preço (os
países do Leste encontram-se à bastante tempo à espera desta alteração das regras
que lhes permitirão “inundar” com o leite que produzem a um preço impossível de
praticar em Portugal, um mercado que se encontrava até agora protegido pelas
quotas de produção. E, se autorizarem a Turquia a comercializar os seus produtos lácteos na Europa com as
mesmas regras que os restantes países da comunidade europeia, então o futuro
será certamente negro). Com o receio que lhe é devido, os deputados açorianos
têm solicitado suplementos adicionais para os produtores de leite durante a
fase de transição, algo que tem sido sistematicamente negado pela Comissão
Europeia (CE) pois o que se pretende é que se reduzam o número dos denominados
“produtores dependentes de subsídios”, ou seja, produtores que vendem o leite
abaixo do preço de custo por sobreviverem dos subsídios à produção, aliás, estas
são medidas que demonstram um possível caminho para a redução e posterior
eliminação completa dos subsídios, o que irá originar o encerramento de várias
atividades, sobrevivendo apenas aquelas que demonstrarem uma maior eficiência
produtiva – tecnicamente, refiro-me à chamada “mão invisível” de Adam Smith,
que refere uma diminuição do preço pelo aumento da oferta, o que levará vários
produtores à falência, e posteriormente ao aumento progressivo do preço do produto
com a saída dos produtores mais fracos.
A
realidade é assustadora mas ao mesmo tempo promissora!
Os
Açores correspondem a um “diamante em bruto” para novos investimentos.
Infelizmente, os novos e atuais investimentos assentam principalmente numa área
especifica, o turismo (que tem consumido a maioria dos fundos europeus) e durante
várias décadas têm sido esquecidos vários sectores que poderiam dar um
contributo importante para o desenvolvimento da R.A.A.. É certo que o sector de turismo é um sector promissor
e com elevada capacidade de retorno, contudo, não deixa de ser também ele um
sector sazonal e de rápida maturidade, e, parafraseando um velho ditado
português, “Não devemos por os ovos todos no mesmo cesto”!
Provavelmente
estaremos perante a altura certa de repensar a estratégia económica de
investimento nos Açores, onde o aconselhamento e um plano estratégico sob a
forma de atuar serão um fator essencial para o sucesso. Os fundos comunitários
2014 – 2020 já se encontram disponíveis e a exceção é o PRORURAL + que ainda
não se encontra aberto. E é sobre este que deverá recair a nossa especial atenção, a sua
utilização deverá ser direcionada para o processo evolutivo dos sectores
primários, nomeadamente a transformação de produtos simples em produtos de
valor acrescentado bruto (VAB), ou seja, falamos de constituição sustentável de
industrias transformadoras.
Os
fundos, como já referi, já se encontram disponíveis e com condições bastante
atrativas para o fomento ao investimento privado, podendo mesmo chegar até aos
75% de “financiamentos a fundo perdido”, e, nas despesas elegíveis conseguimos
encontrar a possibilidade de incluir 2 anos de encargos com o pessoal
(vencimentos, descontos de segurança social entre outros). Por outro lado, a
R.A.A. possui programas específicos de apoio à contratação e ao emprego com
estágios para licenciados de duração de 2 anos onde o governo suporta os custos
de vencimento. E caso se pretenda investir nas exportações, o governo apoia nas
despesas de exportação até ao máximo de 90% do gastos de transporte.
Mas
no que investir?
Os Açores parecem ter-se “esquecido” do mar como
um elemento essencial para o desenvolvimento económico, e agora poderá ser a
oportunidade de voltar a olhar para esta tão importante área geográfica. No
caso das pescas, a R.A.A. entre o período de 1994 a 2014 diminuiu a sua
quantidade de pescado em mais de 35%, e, apesar do valor em numerário
apresentado no mesmo período ter um aumento superior a 45% (de 19.046.665,00€
para 27.531.296,00€) a verdade é que quando atualizado aos valores reais
através do Índice de Preços ao Consumidor (IPC), o sector das pescas apresenta
um resultado negativo em receita de mais de 10% (de 30.664.299,00€ (valor
atualizado de 1994 aos preços de 2014) para 27.531.296,00€).
O
que seria da atividade pesqueira se conseguisse aliar-se a uma industria
transformadora de pesca de baixo valor, se fosse possível criar uma industria
de transformação do pescado à imagem do que acontece com as empresas de
conserva do atum, mas para espécies de menor valor comercial? A imagem parece
ser bastante animadora!
Por
outro lado, não nos podemos esquecer que a integração na União Europeia levou
mesmo a substituirmos a ideia de que os Açores se encontravam no centro das
transações marítimas pela ideia de serem regiões ultraperiféricas e sem
qualquer vantagem comparativa face às restantes regiões centro europeias, o que
fez com que Portugal e em especial os Açores deixassem de beneficiar do trunfo
da geografia que coloca os Açores no centro das mais importantes massas
continentais. A verdade é que a localização dos Açores é uma vantagem para a
transação globalizada de produtos regionais, ou seja, fazem metade da distancia
e como tal, metade do tempo de viajem nos trajetos marítimos (América do Sul -
Europa – América do Sul e América do
Norte – Europa – América do Norte) o que permite uma produção mais cuidada e
com maior tempo de maturação, contudo, para que isso seja viável é também
necessário que os Açores produzam o que os dois mercados procuram. E aqui é que
se encontra o cerne da questão base, o que produzir? O clima das nove ilhas que
constituem o arquipélago dos Açores é de tal ordem diversificado que permite o
cultivo de várias espécies de hortofrutícolas tropicais, além do mais, os
Açores já têm vários exemplos de sucesso, como é o caso do Ananás ou do Chá na
Ilha de São Miguel, e a nível do pescado têm as conservas de Santa Catarina
como um excelente exemplo.
Acrescido
está também o facto dos Açores beneficiarem de uma imagem de produção biológica
ou produção tradicional que coloca os seus produtos regionais no topo da
qualidade, a marca Açores é sinónimo de
qualidade, e como tal, sinónimo de preços mais elevados e de procuras mais especificas
– nichos de mercado. É importante que neste programa que se encontra agora no
inicio (2014-2020) se encaminhe os fundos para o aproveitamento destes mesmos
nichos, produzindo o que a procura pretende! Estamos na altura certa de
iniciarmos novas produções, de testarmos novos produtos e novas explorações
económicas. Estamos na altura de nos atualizarmos face ao que os mercados
pretendem e introduzir os produtos nos países que realmente procuram produtos
de qualidade superior e que têm capacidade financeira para adquirir produtos de
valor acrescentado. Estamos na crista da onda e, ou apanhamos a boleia e vamos
à procura de novos mercados, ou sentamo-nos e aguardamos que a economia
Açoriana seja cilindrada pelas economias do leste da Europa que pretendem
combater no mesmo mercado!
Comentários
Enviar um comentário