Sou da geração que não viveu o 25 de Abril de 1974
Sou da geração
que não fez o 25 de Abril de 1974. Sou de outra geração, da geração que cresceu
e foi educada com as vantagens da existência de tão grandiosa revolução.
Nasci na década
seguinte, e da Revolução a minha geração só sabe o pouco que nos foi ensinado
através das histórias com que se ensinam os jovens nas escolas. A visão desse
marco histórico na democracia portuguesa não é a mesma de quem a viveu, nunca o
poderá ser! Não passámos fome, tivemos acesso – sem esforço - a educação, saúde
e tantas outras regalias que seriam impossíveis sequer de pensar no período
fascista. Sempre pudemos falar, pensar livremente e agir de acordo com a nossa
consciência sem medo de sofrer represálias. Aliás, a maioria não sabe sequer o
que é ter medo de represálias políticas!
O nosso
conceito do “25 de Abril” não é o mesmo das gerações anteriores, e para muitos
jovens das novas gerações, o 25 de Abril é apenas mais um “Feriado” que não
serve de nada se por azar calhar ao fim de semana!
Hoje as
revoluções são outras.
Hoje, os
“jovens” da minha geração são obrigados a lutar diariamente por um futuro que
tendem em não acreditar, que continua a ser tenebroso e fugidio. Somos os
jovens que lutam pela possibilidade de promover a mudança sem nunca nos ser
dada qualquer margem de hipótese. Somos uns livres aprisionados de uma
democracia que vive no medo de errar. Somos aqueles “que não sabem nada da
vida” apenas porque não viveram antes do 25 de Abril!
Somos a geração
dos endividados porque nunca nos foi incutida a responsabilidade do dinheiro.
Porque nunca ninguém nos mostrou que “aquelas calças que custam 39€ são dois
dias de trabalho de uma pessoa que recebe o ordenado mínimo nacional”.
Somos a geração
“anarquizada” com o sistema político, com o modelo de Estado e com as
sistemáticas contrariedades que nos são colocadas. Somos a geração que quer
distância das obrigações democráticas, tal como o ato de votar que é mais que
um direito, é principalmente uma obrigação democrática! Mas estas “manias” não
são por imposição, são antes por ato de absorção.
Somos a geração
a quem foi ensinado que não é preciso trabalhar para ter o que queremos, somos
a geração da exigência!
Somos a
“geração rasca” que vive à rasca!
Somos a geração
com uma das maiores percentagens de licenciados mas que vivem na época da maior
taxa de desemprego jovem de todos os tempos! Jovens que de nada percebem e que
são somente sonhadores com ideias utópicas mas que quando estão no estrangeiro
ganham prémios e são distinguidos através dos maiores galardões internacionais
nas mais diversas áreas profissionais.
Somos os jovens
que são sacrificados por um “Portugal melhor” que teima em não aparecer. Somos
a geração que é sistematicamente empurrada para a emigração e dos jovens que
são excluídos da tomada de decisão dos processos de evolução do país. Somos os
jovens do trabalho precário, dos licenciados que auferem o ordenado mínimo
nacional e dos jovens explorados. Somos aqueles a quem é incutido o medo de
perder o emprego por não haver “mais nada”.
Somos a geração
que vive na época em que o próprio Estado maltrata os seus trabalhadores, que
prefere silenciar as pessoas com apoios sociais em vez de promover aos seus
cidadãos condições de acesso ao trabalho digno!
Sou da geração
em que o Estado não é das pessoas mas sim daqueles que através de ações
criminosas tendem a penalizar o todo em prol de uma minoria!
Sou dos jovens
que não fez o 25 de Abril de 1974 mas que respira e vive Abril! Um jovem que
não aceita ver apenas a realidade que querem mostrar, que não aceita que lhe
“ceguem” de modo a não conseguir ver a verdade sobre o estado da nossa
democracia.
E, passados 41
anos da Revolução dos Cravos, vejo que o caminho da construção da nossa
Democracia Portuguesa tomou um rumo totalmente diferente aos ideais que a
“originaram”! É nosso dever continuar Abril, é dever das gerações que estão na
génese do seu nascimento possibilitar a autonomia necessária para que novas
gerações ajudem Abril novamente a florir!
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