Património Baleeiro.
De todas as magias que a cultura açoriana nos consegue oferecer (e são muitas), uma das que mais me cativou foi o espírito envolvido na vivência das regatas de Botes Baleeiros. Ver o Atlântico com dezenas de velas erguidas é sem dúvida um espetáculo memorável e único, e quem o vê, não consegue ficar indiferente a tal esplendor. Um espetáculo com meses de preparação e de várias provas que carecem de um esforço incomparável em termos físicos e emocionais dos seus participantes. Só a Ilha do Pico, sem contar com os botes participantes e as provas da Ilha do Faial e de São Jorge, dispõe de um conjunto de 18 botes pertencentes a associações e a juntas de freguesia , e seis provas compostas por três regatas cada (Remos Masculino, Remos Feminino e Vela), que se realizam durante os meses de Junho, Julho e Agosto, e que terminam nas comemorações da Semana da Nossa Senhora de Lourdes, a Santa padroeira dos Baleeiros.
As
regatas de Botes Baleeiros são atualmente uma forma de dar continuidade a uma
atividade que cada vez mais se tem tornado um ícone do turismo açoriano – a
atividade baleeira.
O
concelho das Lajes do Pico, através das suas associações e juntas de freguesia,
tornou-se o principal concelho impulsionador desta atividade. Atividade que
deverá ser considerada por todos, como uma atividade de índole cultural,
desportiva e lúdica, mas acima de tudo, com os olhos presentes no seu imenso de
contexto de património histórico deste concelho e desta ilha. Foi desta terra que surgiram os Homens que
mudaram o paradigma da caça à baleia americana, transformando-a e adaptando-a à
realidade local. Foi aqui, nas Lajes do Pico, que se construiu o primeiro Bote
Baleeiro tal como hoje o conhecemos. Foi principalmente do Pico que saíram os
homens para balear nas embarcações americanas (mesmo apesar do porto da Horta
ser o porto principal para as embarcações atracarem). O Pico, foi a ilha com
maior peso na atividade da caça à baleia açoriana, tanto nas capturas como no
número de armações. E, mais impressionante foi a visão empreendedora
demonstrada pelos seus homens que permitiu alargarem a sua atividade a outras
ilhas, através de concessões na Ilha da Graciosa e na Ilha Terceira, e, de se
instalar com sete botes e quatro lanchas em plena Ilha do Faial!
A
atividade baleeira do Pico foi de tal ordem importante para o arquipélago dos
açores que, após a façanha já referida de 1894, fez com que fossem apenas
necessários seis anos para que todas as ilhas se tornassem independentes da
necessidade de importar botes de New Bedford.
Atualmente,
o Pico poderia continuar na vanguarda da memória da atividade baleeira
açoriana, mas, parece ter adormecido à sombra de um passado brilhante, permitindo
que fosse a Ilha de São Miguel a primeira a solicitar um “estudo das técnicas
tradicionais de construção de Botes Baleeiros”, referindo-se mesmo à “técnica
desenvolvida por São Miguel na construção distinta” da embarcação que foi e é
considerada por muitos como “a mais perfeita embarcação que alguma vez
sulcou os mares”.
O
Pico, mais especificamente o Concelho das Lajes do Pico, deve promover uma
aproximação à imagem aclamada da indústria baleeira atual (não somente da caça
mas de todo um mercado que apareceu após 1987, data registada da última baleia
arpoada, e que vai desde a “Whale Watching” às próprias Regatas de Botes
Baleeiros), uma imagem que não se encontra contabilizada mas que possui um
elevado valor acrescentado para o turismo nacional e internacional.
Não
se pode, nem se deve contentar com a centralização da <ideia> de
Património Baleeiro dos Açores, nem de se aceitar a ideia da existência de uma
história repartida entre ilhas como foi proposto por Renata Correia Botelho em
plenário regional na Horta.
A
atividade baleeira, tal como a história nos conta pelas palavras de diversos
autores, teve o seu epicentro no Faial, mas sem muita demora, o Pico tornou-se
no verdadeiro motor impulsionador de toda esta economia a nível regional, o que
faz do Pico, a capital da cultura e da história baleeira.
Deixar
morrer esta ideia, é como entregar de bandeja o ouro diretamente aos
“bandidos”.
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Fotografia: Bote Baleeiro Santo Cristo II da Junta de Freguesia de São João |
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