A falácia das privatizações...


 O processo de privatizações das empresas públicas não é algo que seja recente, aliás, toda esta metodologia de governação teve inicio no período pós-25 de Abril, mais concretamente nos finais dos anos oitenta.

Os argumento a favor da diminuição do peso da intervenção do estado na economia eram vários, e todos eles tinham sempre como pressuposto a ideia base de que a <iniciativa privada> conduziria a um crescimento da produtividade e competitividade das empresas. Contrariamente, enraizava-se a ideia (que ainda persiste) de ineficiência produtiva das empresas públicas - estávamos em plena Guerra Fria e no meio das disputas ideológicas e económicas do Capitalismo vs Comunismo.

As privatizações apresentavam a sua grande <mais-valia>, uma solução de curto prazo, que se traduzia na capacidade de redução da divida externa através das receitas provenientes das alienações.

Entre 1985 e 1995 (dez anos), e logo após a intervenção do FMI de 1983 e durante o governo constituído por um bloco central, com Mário Soares como Primeiro-Ministro e líder do PS e de Mota Pinto como líder do PPD-PSD, entraram nos cofres do Estado português o equivalente a cinco mil milhões de euros provenientes das várias privatizações. Associadas., estavam também medidas exigidas pelo FMI que pretendiam “endireitar” a economia portuguesa. A realidade era já de si assustadora, a taxa de desemprego situava-se acima dos 11% e a dívida externa aumentava de forma galopante devido às taxas de juro internacionais. O FMI, insistiu nas privatizações e na aplicabilidade de cortes estruturais (traduzindo-se na diminuição dos salários da função pública), aumento dos preços, diminuição de investimento público entre outras tantas medidas de austeridade.

Em 1999 o Estado português detinha (ainda) controlo em 93 empresas públicas dos mais variados sectores estratégicos, nomeadamente, gás, petróleo, Portos Marítimos, Bancos, Construção Naval e Indústria Metalúrgica. Mas, a tendência de alienar o património português, privatizando empresas como a Portugal Telecom, a Brisa e a EDP continuava.

Durão Barroso, ex-Presidente da Comissão Europeia, anunciava no seu mandato como Primeiro-Ministro e Líder do PSD, a privatização da EPAL – Águas de Lisboa (um dos sectores mais desejados pelos principais investidores privados) por uma verba que rondaria os 2,9 mil milhões de euros. Um anuncio que seria o primeiro passo para o início das privatizações do sectores dos serviços, nomeadamente o Serviço Nacional de  Saúde, através da criação de um sistema misto, ou seja, parcerias público-privadas.

Em 2003, existiam já estipuladas privatizações que permitiam, mais um encaixe financeiro de 1,5 mil milhões de euros, que seriam o resultado da alienação da IPE (Instituto de Participações do Estado), REN (Rede Eléctrica Nacional), Portucel, Empresas Públicas de Transportes Terrestres, Rodoviários e Ferroviários mas também,  e incrivelmente, a TAP (que não foi concretizada mas que se tenta privatizar a todo o custo neste ano de 2015), sendo outra das privatizações mais abaladas a da GALP em 2006.

Atualmente, o governo teima nas mesmas medidas, uma política de privatizações já realizadas e outras a negociar, nomeadamente da TAP, das  Águas de Portugal (já concretizada por 149,9 milhões de euros), da RTP, da CGD (já realizado um total de 2540 milhões de euros com vendas de ativos) e dos CTT (909 milhões de euros).

Privatizámos empresas que possuíam um valor de mercado elevadíssimo e com uma forte componente estratégica de sucesso, empresas que nos habituaram a vê-las como exportadoras (caso da Cimpor) mas que, por algum motivo,  são verdadeiras causa de  venda de património português a “preços da china”.

Mais assustador ainda é verificar que após todos estes milhões de receita que se geraram durante mais de 40 anos, Portugal continua falido, sem esperança e sem soluções viáveis para o seu sucesso.

Portugal continua com elevados valores de défice, a taxa de desemprego é maior que nunca e grande parte da culpa do número de desempregados é da própria privatização...

São 41 anos de história desde a implementação da democracia e, suspeito que mesmo após quatro intervenções do FMI e das continuadas políticas de “receitas extraordinárias” ainda não se aprendeu bem a lição, ou isso, ou estamos perante um caso premeditado de medidas governamentais que pretendem lesar o próprio Estado e os seus contribuintes beneficiando privados através da venda de empresas subavaliadas e abaixo do seu valor real!



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