A crise dos Mercados Financeiros!

Existem coisas que verdadeiramente me entristecem, e uma delas, senão uma das que mais me revolta, é olhar para o “mundo virtual” leia-se “facebook” e deparar-me com várias opiniões que dão contributos equivalentes a «um zero» à esquerda no esclarecimento pessoal e social de cada um de nós. E sim, eu sei que a democracia oferece isso mesmo, o direito ao livre pensamento e formação de opinião! Contudo, também me dá o direito de discordar sobre esses pensamentos e opiniões na mesma medida em que todos podem também discordar dos meus pensamentos e das minhas opiniões, entrando assim, no campo do diálogo saudável. Mas mesmo de forma saudável, a verdade é que me custa ler o que às vezes leio…

Ouvir falar em “preocupação dos mercados”, “mercados assustados” ou até “vejam como os mercados correspondem bem às eleições” é deveras assustador, principalmente, quando quem pronuncia tais afirmações possivelmente pode nem sequer perceber bem o conceito desses mercados! Pronunciam-nas porque ouviram alguém falar de forma pomposa sobre essas supostas reações.

A banalização do conceito e do interesse especulativo nos ditos mercados, nunca trouxe nada de bom a nenhuma economia, em boa verdade, as verdadeiras crises mundiais foram geradas por especulações, por espectativas de enriquecimento rápido num investimento que não produz riqueza, mas sim, que transfere riqueza! Os tão aclamados mercado financeiros foram os causadores de uma das maiores atrocidades económicas nacionais, a crise financeira de 1891! A Liberalização do setor bancário aliada à dependência das finanças públicas pelo acesso ao crédito levou mesmo a que a economia nacional entrasse num dos maiores pesadelos económicos, e não demorou muito até aparecer alguém, que em “prol das finanças”, mergulhasse o país numa das épocas mais negras da nossa história - A Ditadura Financeira que imperou em Portugal entre 1926 e 1974!

Mas não foi só em Portugal que esse dito Mercado Financeiro gerou controversas crises, nos EUA, deu-se em 1921, mais precisamente a 24 de Outubro, a verdadeira “crise atómica mundial”, a famosa, “quinta-feira negra”. As especulações bolsistas dos “loucos anos 20” dos mercados financeiros americanos levaram a que vulgarmente todos falassem em investimentos acionistas. O tema era comum, era natural e só por isso um caso preocupante. Um “resultado” que acabou por levar os EUA para uma depressão económica que durou 12 anos!


Em todas as crises, a cura sempre exigiu a criação de uma regulamentação forte e eficaz. Não foi fortuitamente que em 1933 o Congresso dos Estados Unidos tornou obrigatória a separação entre bancos de investimentos (emissores e distribuidores de títulos financeiros) e bancos comerciais/tradicionais (recetores de depósitos e concessores de empréstimos). Nada foi feito ao acaso, e o propósito era simples, não deixar que a desenfreada busca por lucros especulativos voltasse a acontecer! Certo, é a nossa memória ser também curta, e em muito menos de 100 anos, a liberalização desenfreada desses sectores voltaram a criar o caos que se transferiu dos EUA para todo o resto do mundo através da crise do subprime!

Estranhamente, ou não, hoje voltamos a ouvir as pessoas falar sistematicamente dos “mercados”, das suas necessidades e dos seus receios. Ouvimos falar do que os mercados querem e do que efetivamente estão dispostos a aceitar para que os países sejam “dignos” das suas interpretações positivas e posteriormente dos seus empréstimos. Nunca antes como hoje foi dado tanto poder às agências de rating. Hoje, em prol das boas graças das agências de rating e dos mercados, governos exigem sacrifícios aos seus habitantes por causa de uma anotação, por causa de uma avaliação que pode influenciar a tomada de decisão do “investidor”!

Mas em boa verdade, o  próprio conceito de investidor acabou por mudar, e com ele, mudou também a percepção que a economia tem do investidor! O investidor, é <aquele que utiliza o seu “capital”, ou seja, dinheiro para algum negócio esperando obter maiores lucros> ou <Pessoa (física ou jurídica) que investe, que aplica recursos monetários em negócios nos mercados financeiro, imobiliário, de mercadorias etc. através da compra de ações em bolsa ou no mercado primário, de títulos, imóveis, mercadorias etc.> . No “início” dos conceitos de economia, o investidor seria aquele que investia o seu dinheiro para criar uma empresa que produzisse riqueza “real” (ou seja, negócios que acabavam por criar postos de trabalho), hoje, esse significado é usado para a figura do empreendedor, e a economia precisa é de empreendedores, de alguém que tenha um verdadeiro interesse em investir na criação de riqueza e em melhores condições económicas através da constante reaplicação da riqueza gerada (lucros) novamente na economia, não propriamente, de especuladores que pretendam simplesmente absorver a riqueza, retirando-a do poder de outra entidade (pública ou privada) sem que exista qualquer interesse na reaplicação dos lucros na economia real. Um exemplo flagrante deste embuste, foi o facto de que em 1999, o mercado americano negociou através da bolsa de Nova Iorque um total de 20.400.000.000,00Usd (20,4 milhões de milhões de Usd), tendo sido apenas emitidas ações novas no valor de 100.000.000,00Usd (100 milhões de Usd), valor esse que efetivamente foi “usado” na economia. Nesse ano, foram transferidos cerca de 20,3 milhões de milhões de Usd que não tiveram qualquer utilidade para a economia, assemelhando-se, puro e simplesmente ao ato de jogar no casino!


E ouvir governos constantemente preocupados com o aspeto dos mercados, aceitando estrangular o povo para cumprir metas  de défice em prazos verdadeiramente irrealistas e de modo a entrar nas boas graças dos “investidores especulativos”, é no mínimo, um ato de verdadeira barbárie  para com todos os cidadãos que compõem um país.

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