Memória curta só para quem a quer!
Quem
diria que hoje, após as eleições de 04 de outubro ainda estaríamos a discutir
quem ganhou efetivamente as eleições. Que estaríamos a discutir quem tem ou não
razão e a quem deve ou não deve ser atribuído o título de Primeiro Ministro.
Quem diria que hoje, estaríamos ainda a olhar para um processo tão importante
como o ato eleitoral como se de um concurso ou prova desportiva se tratasse.
Nos
últimos dias, tenho lido nos mais diversos jornais nacionais um ataque voraz a
uma possível coligação à esquerda. O Presidente da República, que nunca se
prenuncia sobre nada, veio mesmo prenunciar-se de tal forma partidária que só
faltou mesmo crucificar qualquer coligação que englobe o Bloco de Esquerda ou o
Partido Comunista, conotando-os como que os principais responsáveis pela realidade
económica do país, ou pior, como aqueles que nunca serão capazes de passar da
teoria à prática.
Incrivelmente,
é olhar para as centenas de páginas e mais páginas que foram impressas nos
jornais nacionais no período pós-eleitoral, e que tentam construir e implementar uma realidade que não
é de todo a verdade. É preciso descortinar o real motivo pelo qual se sentem
ameaçadas tais forças. É preciso
relembrar que desde o 24 abril de 1974 apenas 3 partidos estiveram no Governo,
e que as histórias de coligações não é de todo nova.
Se
analisarmos o histórico das coligações nos governos constitucionais, podemos
logo começar com o IIº Governo constitucional que tinha como primeiro ministro
Mário Soares em que o governo foi constituído através da coligação PS e PSD em
23 de janeiro de 1978. A 3 de janeiro de 1980 teve inicio o VIº governo
constitucional com Sá Carneiro como Primeiro Ministro, um governo constituído
através da coligação PSD, CDS e PPM. A 9 de Janeiro de 1981 (após a morte de Sá
Carneiro no ainda por desvendar caso Camarate),teve inicio o VIIº Governo
constitucional com Pinto Balsemão como Primeiro Ministro mantendo-se a
coligação PSD, CDS e PPM, coligação que se estendeu durante o VIIIº governo (4
de Setembro de 1981). O IXº Governo constitucional de 9 de Junho de 1983, em
que Mário Soares volta novamente a ser eleito, é constituído através da
coligação PS e PSD. A 6 de Abril de 2002, é constituído o XVº Governo
constitucional através da coligação PSD e PP com Durão Barroso como Primeiro
Ministro. O XVIº Governo constitucional teve como Primeiro Ministro Santana
Lopes e seguiu a coligação anterior PSD e CDS/PP. O XIXº Governo Constitucional
foi constituído pelo PSD e CDS/PP e foi
presidido pelo Passos Coelho, a mesma coligação que assume a vitória do XXº
Governo Constitucional.
Em
várias coligações do PSD, o CDS/PP como uma força inferior teve sempre o seu
lugar na história da democracia, é estranho hoje ouvir o Paulo Portas minimizar
os partidos do BE e do PCP por atuarem num acordo idêntico aos acordos sempre
negociados pelo CDS/PP.
O
mais certo, é o Presidente da República indigitar o Passos Coelho como primeiro
ministro o que de certo modo levará a uma monção de censura por parte dos
partidos da esquerda, levando o país a um novo período eleitoral.
Mas
mais grave que isso, é a tentativa incessante de branquear a memória e a
história da democracia do nosso país utilizando os meios de comunicação
disponíveis e serviçais aos partidos que defendem os seus interesses
particulares, nomeadamente, o jornal Expresso e o jornal online O Observador!
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