Portugal é um fogo que arde e se vê, é ferida que dói e que se sente…

«Portugal é um fogo que arde e se vê, é ferida que dói e que se sente…»

Hoje, todos nós estamos de luto, um luto que se propaga ao mesmo ritmo que hectares e hectares de solo português vão sendo reduzidos a cinzas a cada hora que passa.

Portugal inteiro arde a um ritmo alucinante, os esforços que vão sendo mobilizados são heróicos mas parcos para a resolução desta tragédia que teima em não querer dar tréguas. São já contabilizados 11 incêndios de grande dimensão que em conjunto vão acumulando danos materiais, ambientais e económicos avultados, como são também, causadores de vítimas mortais (4 até ao momento em que este artigo esta a ser escrito).

A catástrofe aconteceu, Portugal não estava preparado para um acontecimento desta natureza e automaticamente fizeram-se soar as vozes de revolta. Discutem-se agora quais as razões que levaram a tamanha barbaridade. Reivindicam-se penas pesadas para aqueles que de forma criminosa e terrorista atacaram e destruíram milhares e milhares de anos, que puseram em risco milhares de vidas e que criaram milhares de desalojados. Em suma, pede-se que as consequências sejam proporcionais aos danos causados pelos criminosos que destruíram vidas inteiras da nossa “gente”. Estima-se mesmo que cerca de 75% dos incêndios em Portugal sejam de origem criminosa e que apenas 25% dos incêndios sejam casos de verdadeira negligência.

Mas o que mais aflige é que este é um tema recorrente nas nossas vidas, e ano após ano os incêndios em território português (continente e ilhas) têm crescido de uma forma substancialmente acelerada. Segundo dados da Fundação Francisco Manuel dos Santos (através do site Pordata), nos últimos dez anos (2004/2014) Portugal foi alvo em todo o seu território (continental e ilhas) de um total de 234.598 incêndios que foram responsáveis pela devastação de mais de um milhão e cem mil hectares de terreno (povoamentos florestais e mato) que englobava certamente o habitat de centenas ou até mesmo milhares de espécies animais. 

Sim, estes atos delinquentes são crime, são verdadeiros atentados á integridade física humana e verdadeiros atentados á qualidade de vida de todos nós, e sim, devem ser punidos de forma adequada e justa às suas consequências!

Mas temos de ir mais longe, temos de assumir que o real problema está no modo como olhamos para o próprio problema em si e na forma como visionamos a sua própria resolução. É claro que o modo coercivo e condenatório do criminoso é uma das formas “mais populares” de nos defendermos e de penalizarmos o indivíduo pelos seus atos, mas esse método, tal como comprovam os dados estatísticos disponíveis, não é de todo o método mais eficiente! Continuamos drasticamente a precisar de desenhar um modelo eficaz não só de combate mas também de prevenção, um modelo de solução que se enquadre necessariamente na realidade e no reconhecimento territorial. É urgente criar uma política eficaz no que concerne ao ordenamento do território, precisamos de uma política que crie “verdadeiras” condições para a preservação florestal e que seja ela mesmo uma política ativa para a prática de policulturas, criando assim, um maior incentivo ao aparecimento de produções agrícolas familiares que sirvam de complemento ao trabalho (atualmente escasso) realizado na “limpeza” das matas.

E nesse sentido, assumirmos reduzir o problema dos milhares de incêndios à questão das penas aplicadas é olhar apenas o problema de um ponto de vista microscópico, negligenciando por isso mesmo a sua monstruosa e real dimensão.

«Obrigado aos nossos HERÓIS, aqueles que lutam de forma incansável, que põem em causa a sua integridade física para corrigir os crimes hediondos que ano após ano os “nossos” terroristas vão cometendo!» 






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