“Mais Burro que o Burro, só aquele que pensa que o Burro é Burro.”
Na passada semana, e logo após as
eleições para a Assembleia Legislativa Regional, deu-se um surto de “bertoldice”
a vários comentadores e colunistas que conhecem tanto os Açores como eu sei
falar mandarim.
Presunçosamente, “balbuciaram”
tantas certezas sobre os Açores que não conhecem que só me restou efetivamente “fechar
os olhos, baixar e abanar a cabeça” como um verdadeiro sinal de vergonha que
senti em ouvir e ler tamanha tarouquice.
João Quadros, um cronista que até estimo
bastante, escreveu ironicamente sobre um tema que me preocupa de forma
avassaladora, a percentagem de não-açorianos
que não conhecem nada dos Açores e que teimam em assumir que só a capital é que
tem o condão da inteligência. Possivelmente, terá mesmo sido influenciado pelas
declarações quase em direto do comentador da SIC Luís Delgado sobre os
resultados eleitorais, e pela capacidade que julgou possuir em imaginar “explicações”
para o nível de abstenção. Esqueceram-se, pressupondo eu que alguma vez o souberam,
foi efetivamente do que são os Açores.
A cultura açoriana é deveras
distante da cultura da Capital, aliás, o acesso á cultura é de tal forma
diferente que nos Açores é transversal a todos os seus habitantes
independentemente da classe social em que se encontram. A música faz parte do
seu quotidiano, tal como a literatura, os museus, e as viagens. Sim, é verdade,
possivelmente os açorianos viajam mais frequentemente por esse mundo fora a
conhecer novas culturas do que os ilustres João Quadros e Luís Delgado viagem
entre Lisboa e a Margem Sul!
Por outro lado, o uso do
analfabetismo dos habitantes dos Açores (tal como apregoado por João Quadros e
Luís Delgado) como um dos factores da abstenção é de uma total abstenção de inteligência.
Enganaram-se redondamente no quadro clínico, pois grande parte da abstenção é também
derivada da grande maioria dos jovens com idades compreendidas entre os 18 e os
26 anos estarem fora da sua residência por estarem efetivamente a se formar academicamente
nas universidades espalhadas por esse Portugal fora.
É que nos Açores, as
Universidades não se encontram disponíveis de 20 em 20 passos como
supostamente “as urnas” do João Quadros.
Mas numa coisa estamos os dois de
acordo, “na verdade, a maioria dos portugueses mal sabe da existência da
assembleia legislativa açoriana”, tal como também não sabe nada sobre a história
portuguesa ou de matemática, de geografia ou cultura em geral (atenção que a
casa dos segredos não vale!).
Aliás, a maioria dos portugueses nem
tão pouco sabem sobre Assembleia da República, sobre o Primeiro Ministro ou o
Presidente. Se calhar, poucos saberão que existem mais instrumentos para além
da flauta, poucos saberão que existem mais desportos para além do futebol ou
até, efetivamente, pouco saberão sobre a necessidade de lutar por aquilo em que
acreditam.
Atenção, o João Quadros fez a tropa nos Açores
ResponderEliminarAgradeço a informação.
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