E o mundo acordou um "pouco" pior (...)
Hoje acordei com uma mensagem no
telemóvel que afirmava que Donald Trump tinha vencido as eleições. Sem
correrias ou sobressaltos, fiz o que sempre faço quando acordo, e fi-lo sem
qualquer estupefação porque o que vem dos Estados Unidos da América já nada me
surpreende.
No fundo, estas foram as eleições
mais estapafúrdias (mas também as mais perigosas) que alguma vez tenha
assistido. Foram as eleições que serviram para eleger não o melhor, mas sim, o candidato
menos mau (sim, porque a Hillary Clinton também era uma candidata de
credibilidade muito dúbia).
Todo o processo eleitoral foi um
verdadeiro “Showbizz” à moda das “galas da Casa dos Segredos” mas em versão e dimensão americana. Um “programa” de
tal forma montado que fez Portugal Continental esquecer, por exemplo, as
eleições para a Assembleia Regional dos Açores.
Ouvir Trump falar era “muito
mais engraçado” do que qualquer outro programa de televisão que pudesse passar em horário nobre!
Trump, disse-se, foi esmagado
inúmeras vezes nas dezenas de debates que teve com Hillary Clinton. O povo
mundial riu-se, e os americanos ficaram a matutar nas supostas “ideias
estapafúrdias” que Trump ia balbuciando.
Trump “falou directamente ao coração da economia” americana. No fundo,
Trump espetou o dedo na ferida e Hillary simplesmente não soube o que fazer. E
não soube porque evidentemente não saberia responder sem por em “cheque” os
seus “patrocinadores eleitorais”.
Trump, cuspiu na NAFTA (tratado
Norte Americano de Livre Comércio que envolve os EUA, Canadá e México) e nos
seus acordos de liberalização económica. Afirmou que as empresas americanas são
para operar nos EUA e que estas devem dar trabalho aos norte-americanos e não a
mais ninguém.
Trump dá um “pontapé no rabo” da
globalização e do livre comércio internacional e defende que vai implementar “pesadas taxas alfandegárias sobre importações
mexicanas e chinesas” como uma medida de defesa das empresas
norte-americanas, medidas que consequentemente farão aumentar os postos de trabalho. Afirma
que enquanto for Presidente dos EUA não vai permitir uma concorrência desleal entre a economia americana e as
economias dos países em vias de desenvolvimento.
Trump usou um discurso de poder,
de confronto e de defesa patriótica para com os Estados Unidos da América. Usou
uma metodologia de discurso ao estilo “Hitleriano” e fez da sua imagem uma
imagem de salvador dos interesses americanos num período tão conturbado como aquele em que vivemos atualmente. E por isso, e só por isso, é que ganhou!
Em tempos de
crise económica e social vencem os “fortes” e não os socialmente corretos.
Assim aconteceu com Hitler, com Salazar e com tantos outros que farão parte da
história mundial. E só assim se justifica o crescente apoio a Marie Le Pen (Frente Nacional), a Nicoláos Michaloliákos (Aurora Dourada), a Timo Soini (Partido dos Finlandeses) ou a Kristian Thulesen Dahl (Partido do Povo Dinamarquês - DFP).
No fundo, a vitória do Trump não
é mais que um “desprender” das amarras conceptuais que se foram criando ao
longo do séc. XX sobre os livres comércios internacionais. No fundo, a vitória
do Trump não é nada mais do que as pessoas a pedirem “a sua” autonomia
internacional e nacional. No fundo, a vitória do Trump não é nada mais que o descalabro
do resultado da liberalização do comércio internacional. No fundo, a vitória do
Trump não é nada mais que a população a demonstrar o seu receio pelos “caminhos”
que o mundo tem seguido e a pedir que alguém ponha fim a isto!
No fundo, ouvir as ideias do Trump
desta maneira até parece bonito, o que não é bonito, é todo o conceito sociológico
implícito no seu raciocínio.
Todo o conceito de xenofobia e de
racismo que apregoou, todo o desrespeito pelos bens comuns (caso do ambiente),
todo o desrespeito pelos trabalhadores e pelos seus direitos, e todo o conceito de inexistência
de direitos sociais, fizeram de Trump um verdadeiro tremor para o mundo
inteiro.
Mas terá Trump o direito de ser eleito?
Claro, é uma “consequência” da democracia, foi uma decisão da maioria dos
eleitores norte-americanos e contra isso "nada podemos fazer". Seria o desmoronar da liberdade de escolha...
Mas se os norte-americanos elegem o Trump só podem ser burros? Que "moral" temos nós portugueses de lhes apontar o dedo quando nós conseguimos eleger tantas
vezes o Prof. Cavaco Silva? Quando nós somos dos países com maior taxa de abstenção?
Mas os Estados Unidos da América vão ficar melhor? Não sei nem ninguém sabe. Será um período certamente muito conturbado e a única
coisa que sei, é que o mundo hoje acordou um "pouco” pior...
Vejam as declarações de Michael Moore em:
http://michaelmoore.com/trumpwillwin/
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