A defesa do investimento no aeroporto do Pico não é ser-se "bairrista", é ser-se racional!

Nos últimos dias muito se disse sobre os aeroportos do Pico e do Faial. Falou-se muito mas concluiu-se muito pouco, e infelizmente é desta forma que “aposto” que vai continuar.

Enquanto uns falam “sentimentalmente”, outros apresentam números para sustentar a sua defesa. Todos apresentam as suas razões, e todos têm razão na defesa dos seus interesses restando apenas analisar quais as melhores razões para sustentar quem e o quê.


Infelizmente, no caso da defesa do investimento público para o melhoramento do aeroporto do Pico, lançou-se a ideia que a mesma não tinha qualquer fundamento económico, turístico ou social e que provinha essencialmente de “bairrismo”, “mesquinhes” e até mesmo de uma vontade única de “destruir a ilha vizinha”.

Nesse sentido, e repudiando essa ideia de inexistência de fundamentos, podemos evocar várias razões lógicas para que o Pico tenha o seu aeroporto melhorado, mas por agora, centrar-me-ei especialmente na razão económica e do custo/benefício do investimento estimado.

Ainda não existem valores “finais” para o custo do alargamento da pista do aeroporto do Pico e do Faial. Até ao momento, os valores apresentados são apenas estimativas e por isso valem o que valem. Contudo, não podemos de maneira nenhuma desviar a atenção às discrepâncias das estimativas de custo entre os dois aeroportos.

Para o mesmo “benefício” aeroportuário, o aeroporto do Pico precisa de um valor de investimento a rondar os 6,5 Milhões de Euros e o aeroporto do Faial necessita de cerca de 50 Milhões de Euros.

Só este fator, seria por si só suficiente para uma tomada de decisão à vista de “quase” todos, mas parece que assim não é. Nesse sentido, torna-se importante desconstruir o raciocínio dos números e analisar o custo do investimento pelo número de indivíduos associados a esta tomada de decisão.

Em termos de rácios, o investimento no Faial representa um custo (per capita/ habitante) de 1.715,00Euros por pessoa e o do Pico de 223,00Euros por pessoa, valores calculados com base no somatório dos habitantes do Pico e do Faial registados nos Censos 2011.

Se olharmos para os números dos desembarques e embarques de passageiros, o aeroporto do Faial representa um total de 188.463 passageiros e o aeroporto do Pico representa um total de 109.072 passageiros (dados do SREA de Janeiro a Outubro de 2016), o que faz com o rácio de custo/passageiro seja de 236,90Eur no aeroporto do Faial e de 53,87Eur no aeroporto do Pico. E aqui, não nos podemos esquecer que o aeroporto do Faial tem um número superior de voos semanais que o aeroporto do Pico, o que faz com a análise por rácio seja por si só mais benéfica ao aeroporto do Faial.

Associado a este investimento, temos também a quantidade de Açorianos que podem vir a usufruir das condições de um melhoramento do aeroporto. E aqui, torna-se importante “juntar” a esta análise os habitantes da ilha de São Jorge, que passariam a ter no aeroporto do Pico uma alternativa viável de viagem, algo que não acontece com o aeroporto do Faial dada a distância/tempo de viagem entre as duas ilhas (Faial – São Jorge).

Por outro lado, podemos e devemos também mencionar o interesse nas rotas do estrangeiro com destino Pico, como foi exemplo o caso dos voos diretos de Amesterdão (TUI) e que não foi um caso maior de sucesso dado a inexistência de condições de operacionalidade para aeronaves das famílias Airbus A320 e Boeing 737, que se encontram nos aviões mais utilizados em viagens de médio curso.
Para finalizar, tal como Joel Greenblatt disse, «O Segredo para investir é descobrir o valor de alguma coisa, e então pagar muito menos por ela.»

E aqui voltamos ao início da nossa conversa, onde a chave (descoberta de valor) centra-se no melhoramento de um aeroporto, num melhoramento que aumente as condições de acessibilidade a todos os açorianos e a todos os turista, que permita receber aeronaves provenientes de voos diretos de países estrangeiros e que aumente assim, o impacto do turismo na economia açoriana.

Agora, a questão que se coloca é, devemos nós ser economicamente racionais e pensar no custo benefício de um investimento público, ou aniquilar toda e qualquer racionalidade e fazer por se fazer sem se olhar a custos?

(Fotografia de Vasco Paulos)

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