Do «Deus, Pátria e Família» à atual Democracia. "Parte 2 de 3 – A Família! O declínio do conceito de família no evoluir da democracia."



Com o aparecimento da democracia, várias foram as alterações que se foram vendo ser implementadas. Umas que surtiram o efeito desejado e necessário, e outras que tomaram um rumo desproporcionado no que respeita à sua génese. Com a “suposta” liberdade com que fomos aliciados, vieram as obrigações morais e sociais que deveríamos ter cumprido escrupulosamente, pois eram os alicerces de toda a nossa cultura. Em boa verdade, o 25 de Abril trouxe consigo um «liberalismo» para o centro de um país que gritava por um socialismo controlado. Aos poucos, esse liberalismo tomou conta de toda uma estrutura económico-social que passou a prescindir de valores sociais e familiares em abono de valores económico-financeiros, valores que só fariam sentido se alcançados conjuntamente com os valores sociofamiliares. Ao deixar de haver conceitos familiares, as famílias passaram a tornar-se num fardo, e com a “aceitação” social de libertação desse fardo, o abismo instalou-se!


Infelizmente, nem só de coisas boas se construiu a nossa atual realidade.

Com a implementação da democracia muitos foram os “podres” que se instalaram no nosso quotidiano. O conceito de família, por exemplo, foi um dos pilares que com a sua revolução se perdeu. É verdade que no tempo do Estado Novo, a família era controlada de acordo com os ideais “salazaristas”. As mulheres não tinham “direitos”, eram escravas do lar (tal como era usada a expressão no tempo da antiga Roma), mas progressivamente, as mulheres tomaram o controlo de si mesmas, quebraram as amarras que as deixavam presas ao lar e aos filhos e acabaram por se tornar independentes, e muitos dirão que com este movimento vieram os problemas.

Acontece é que os problemas gerados em torno dessa revolução não estavam na emancipação das mulheres, mas sim no facto do país não estar devidamente preparado para que essa “revolução” acontecesse. As mulheres sentiram-se “obrigadas” a trabalhar mais que os homens para que lhes fossem dadas oportunidades iguais, muitas delas esqueceram o caráter do matrimónio e abraçaram exclusivamente o caráter profissional.

Com o passar do tempo, o conceito de família deixou de se fazer sentir, a ideia de que a família seria uma «instituição responsável e fundamental pela promoção da educação e influência do comportamento nos filhos», deixou de existir. O Trabalho passou a ocupar mais tempo que anteriormente ocupava e a participação na vida dos filhos passou a ser considerada como um ónus. Os filhos passaram a tornar-se problemas, “passaram” a exigir tempo e atenção e as “famílias modernas” deixaram simplesmente de ter esse tempo disponível. Os filhos passaram a ser uma mera e simples “opção”, tal como a opção de comprar um carro hoje ou esperar por mais algum tempo!

As famílias que se “aventuraram” a ter filhos passaram a ter um problema de consciência, um problema de articulação entre as 12 horas de trabalho e a participação ativa na vida dos filhos. Um problema que pedia uma gestão, mas que era impossível de se gerir. Para colmatar tais “dilemas”, foram aparecendo substitutos para as responsabilidades paternas, Amas, Colégios, Ateliers de tempos livres, apareceram coisas que permitiam com que os filhos estivessem ocupados na maioria do seu tempo sem haver necessidade dos pais saírem do trabalho a horas decentes dessa participação. Os pais ficaram descansados e as entidades patronais já não tinham com que se chatear.

A família passou a estar junta apenas duas ou três horas por dia, e muitas vezes, sem estarem presentes numa simples refeição. E tudo isto em prol da busca da fortuna prometida.

«Filho és, Pai serás!»

Mas não só de filhos vive o declínio do conceito de família. Num outro prisma, muitos dos Pais deste país tornaram-se “obsoletos”, passaram a ser fragmentos de memórias preferivelmente esquecidas e tudo isso porque simplesmente envelheceram. Para muitos filhos, o envelhecimento desses pais passou a ser considerado como um “peso-morto” nas suas vidas. Os pais, passaram a estar largados num quarto à espera da sua malfadada sorte, à espera de um dia poderem ver alguém que lhes lembre o seu passado. Passaram a estar confinados a uma casa que não a sua onde as lembranças simplesmente deixaram de abundar, tudo porque os filhos deixaram de ter “tempo”, um tempo que passou a ser dedicado na busca de uma fortuna que continuou a teimar em não aparecer.

A distinção entre o peso da família e o peso profissional não significa por si só uma força de oposição, muito pelo contrário, a sua distinção significa que estas duas forças devem ser complementares, devem ser medidas como uma balança de modo a diminuir o fosso que habita entre si. O desrespeito pelo conceito familiar tornou-se no nosso maior problema, e atrevo-me mesmo a dizer que se tornou no declínio da nossa sociedade.

É impossível criarmos um Estado plenamente democrático a partir de Homens egoístas, sem princípios ou escrúpulos. Não podemos criar uma “democracia justa” com base em Homens sem sentido “comunitário” ou social. E como poderemos nós confiar em alguém que desrespeita o futuro e o passado da sua génese? E se “particularmente” não existe bom senso, então, deverá ser o Estado a criar as pontes necessárias para que nenhuma das forças saia prejudicada, permitindo assim, encontrar o “perfeito” equilíbrio entre as duas partes.

O direito à família (não no seu conceito biológico mas no seu conceito participativo) é talvez dos princípios mais importantes de toda a nossa sociedade, é dos princípios pelos quais devemos todos nós de continuar a lutar arduamente para que nunca se perca sob prejuízo de um dia nos tornarmos numa sociedade fria, sem valores ou princípios e onde não passamos de apenas máquinas de trabalho descartáveis.

Praeterita meminisse aedificare futurum.



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