Até quando?
Já se passaram vários dias desde o
trágico episódio que assombrou o país. Foram vários dias de um terror
incalculável que dizimou a vida de centenas de portugueses que sem saberem
viram-se dentro de um verdadeiro inferno! Das suas chamas, apenas restou o
terror, o sentimento de desespero, de impotência e de revolta. Nada mais restou
a não ser as cinzas do que outrora foram vidas.
Em sufocantes gritos de angústia
e de temor apagaram-se hectares de história viva, de D. Dinis I, rezará apenas
a história de como a sua visão de 11.080 ha protegeriam a cidade de Leiria das
areias transportadas pelos ventos, e da sua “política” de renovação do pinhal
que “obrigava” à replantação de pinheiros na mesma quantidade do corte de
árvores ficará apenas a lembrança.
Do pinhal de Leiria rezará apenas
a história da sua importância para os Descobrimentos. A sua dimensão, vai por
agora permanecer apenas no imaginário de todos aqueles a quem se contar a sua
história com a esperança que a recuperação seja possível de ser efetuada tal
como foi em 1916.
Nada do que se possa dizer ou
pensar sossegará aqueles que por tamanhas dificuldades passaram. Nada nem
ninguém conseguirá apaziguar os fantasmas que pairam sobre aqueles que
vivenciaram em primeira mão todo aquele sofrimento.
Se o disseram hoje, também o
disseram em 1916, e desde aí nada foi feito para minimizar ou precaver os incêndios
e culpabilizar “verdadeiramente” os incendiários.
Vidas em risco e heróis sem mãos
a medir para tamanha batalha foram sendo postos à prova, dia após dia, ano após
ano. E sem o devido apoio ou nada feito para precaução, o resultado está aí,
mais de 100 mortos registados só este ano devido a incêndios!
E tal como vem sendo comum, a
morte voltou novamente a varrer Portugal!
A desgraça ceifou os pulmões do
país e a vida de centenas de pessoas e animais que nem com o seu instinto de
sobrevivência conseguiram vencer esta batalha. Várias foram as vítimas que
sofreram as consequências de atos criminosos que têm vindo a ser negligenciados
pela justiça portuguesa. Custa-me a acreditar que exista alguém a quem a
malvadez de aniquilar sem dó nem piedade aquilo que é de todos nós é superior aquele
espírito acolhedor e afável de que tanto somos elogiados. Custa-me acreditar
que possa existir alguém capaz de eliminar de forma tão vil e cruel centenas de
vidas sem motivo aparente. Custa-me a acreditar mas a verdade é que os há, e
sem qualquer pudor e sem deixar tempo para chorar o terror de Pedrogão, as chamas
voltaram a ser ateadas sobre todos nós. E mesmo a mais de 1641 km de distância,
o calor das chamas trespassou a imagem das televisões e deixou marcas em todos
nós.
Portugal voltou a chorar, mas
continuará a chorar até quando?
Até quando se deixará que crimes
desta natureza fiquem impunes? Até quando se continuará a adiar decisões do
interesse nacional para a proteção do ambiente e da segurança pública? Até
quando se continuará a acreditar que remediar é melhor do que prevenir?
«Quando a última
árvore tiver caído, quando o último rio tiver secado, quando o último peixe for
pescado, vocês vão entender que dinheiro não se come!» (greenpeace)
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