Obrigado!




Um dos mais velhos e acertados aforismos, “Só sabe o que se passa no convento quem está lá dentro”, deveria ser empregue ao trágico episódio que aconteceu hoje no dia de Reis (06 de Janeiro de 2018) no porto da Madalena com a embarcação Mestre Simão e que a todos nos desolou. Se alterássemos o aforismo para, “Só devia de falar sobre o canal quem nele constantemente viaja” não era também de todo descabido, e creio mesmo, que até fosse uma alteração bastante acertada!

Diariamente, são várias dezenas de pessoas que atravessam o canal entre o Pico e o Faial para poderem ir trabalhar. Várias são as pessoas que diariamente, quer faça sol, chuva ou vagas enormes, se sujeitam a embarcar para poder cumprir com a sua obrigação profissional. Várias são as pessoas que são constantemente confrontados com a expressão quase popular de que “Hoje já não vos custa nada, se fosse como quando era com a Espalamaca aí é que eu queria ver”. E essas várias pessoas são as mesmas pessoas que de uma forma angustiada e desesperada olharam para esta tragédia e pensaram, “podia muito bem ter sido connosco”!

É certo que nós, os passageiros assíduos e diários destas embarcações, somos por vezes incompreensíveis quanto às questões climatéricas e quanto aos respetivos cancelamentos das viagens, mas tudo isso tem uma explicação, a vontade enorme de regressar a casa e de estar com a família depois de um longo dia de trabalho. O desassossego de não conseguirmos regressar a casa é algo que na maioria de nós nem se consegue imaginar, mas acreditar que podíamos ter sido nós a passar por aquilo que outros passaram faz-nos certamente repensar todo o nosso quotidiano.

Infelizmente, este trágico episódio permitiu que várias fossem as pessoas que se conseguiram licenciar em Engenharia Civil, em Mecânica Naval ou até mesmo em “pilotar” embarcações de grandes dimensões dadas as várias opiniões que foram sendo balbuciadas nas redes sociais, opiniões que foram sendo transmitidas contra tudo e contra todos, esquecendo principalmente, que quem estava no Mestre Simão era também alguém com sentimentos e família, alguém que nesta altura precisaria muito mais de um apoio do que um “linchamento” popular.

Não posso relatar o que aconteceu. Hoje, não tenho fundamentações para o explicar, apenas sei que quem lá ia merece o nosso respeito e admiração pelo seu esforço em conseguir trazer a são e salvo os passageiros que lá se encontravam que eram os filhos, os cônjuges, os pais ou os familiares de alguém que estava em terra firme a desesperar por saber alguma informação. A minha mulher ia nessa viagem e isso tornou-me muito mais pequeno!

Hoje, presto uma vénia a toda a tripulação da embarcação do Mestre Simão e ao seu Mestre Rui Azevedo, foram uns verdadeiros heróis ao transformarem o que seria uma catástrofe num episódio muito menos infeliz. Do mal, conseguiram salvar aquilo que de maior valor transportavam, a vida das cerca de 70 pessoas que iam nessa viagem! Conseguiram trazer para casa, os pais, os filhos e os familiares daqueles que em terra iam também sofrendo, e isso é coisa que não se consegue pagar! 


Obrigado!

==============

Para ler a mensagem de um dos passageiros da viagem clique na mensagem abaixo!


Comentários