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Nos últimos dias, até mesmo semanas, temos vindo a ser bombardeados com o “impacto” das medidas na alteração da programação dos voos para o Pico e para Faial.
Se por um lado, o aeroporto do Pico garantiu o quarto voo semanal em período de verão IATA, por outro, o aeroporto do Faial vê assim reduzido o seu numero de voos semanais que segundo os mais entendidos, serve apenas para adequar a oferta à procura existente. O que é certo é que os defensores do aeroporto do Faial não aceitaram e já marcaram uma manifestação para contestar essa mesma decisão, exigindo a realização dos 14 voos semanais.


Mas, será viável um aumento do número de voos sem adequação à realidade actual? 

Independentemente da Azores Airlines ter capital público, uma coisa é certa, não é de todo possível exigirmos “extravagancias” a uma empresa que já de si apresenta prejuízos avultados, ainda para mais, quando essas exigências juntamente com tantas outras rotas que têm sido feitas e que, de certo modo poderemos mesmo discordar delas, colocam em causa a sustentabilidade da actividade da transportadora que já de si se encontra “em falência”. Não nos podemos de todo esquecer que, aquando da sua privatização, mesmo com o Governo Regional dos Açores a ter a maioria do capital social, a gestão será com base nos pressupostos da gestão privada, visando como é óbvio e como deveria ter sido sempre, a eficiência económica dos recursos nela investidos, e aí, a oferta será rapidamente adequada à procura. Por outro lado, qualquer gestão que se prese, deve ter sempre em atenção ao exponencial do crescimento da procura por novos mercados, como é o caso do destino Pico, e não apostar num “mercado” que garanta taxas de crescimento é perder o comboio do retorno financeiro, ainda para mais, quando existem empresas que querem entrar nesse mercado como é o caso da Ryannair. É neste “limbo” de dúvidas e de indecisões que todas as questões começam a aparecer e deverão ser discutidas. Será que existe mercado para ter 18 voos semanais para o triângulo? Se os quatro voos programados para o Pico se mostrarem insuficientes, aumentamos o número de voos ou deixamos a rota estagnar perdendo assim o potencial de crescimento?

Várias são as questões que se vão colocando em que as respostas não serão de todos susceptíveis de agradar a todos os intervenientes, mas, com toda a certeza que têm de ser analisadas cuidadosamente para que se possa “manter” uma harmoniosa gestão da relação do património público.

Mas que exigências podemos nós impor à companhia açoriana? Tomemos o exemplo da realidade da Ryannair, uma companhia de transportes aéreos que gere a sua actividade de forma a tornar-se o mais rentável possível. Apesar de nem todas as medidas serem de “aprovação social”, como é o caso dos baixos ordenados, muitas outras de extrema racionalização de custos são certamente motivo de análise, como é caso da decisão de voarem apenas para aeroportos de baixo custo (E quando são direccionados para um aeroporto diferente, o diferencial de custos é usualmente suportado por quem assim os direcciona, como por exemplo os Governos com quem negoceiam).  É neste tipo de abordagem que devemos ter em atenção, questionando-nos sobre qual o motivo que leva a Ryannair a ter preferência pelo Pico em detrimento do Faial. Obviamente que para além do impacto da procura ser largamente superior à oferta, o custo de operar no aeroporto do Pico é também largamente inferior ao de operar no aeroporto do Faial que é gerida pela Vinci. Mas se assim é, qual o motivo e o racional económico pelo qual devemos impor para que a companhia aérea açoriana suporte maiores custos operacionais nos voos para o triângulo?

É certo que o destino triângulo, mais especificamente o Faial e o Pico, têm na sua definição de acesso dois aeroportos que acabam por competir entre si quando na verdade deveriam ser complementares! Uma complementaridade que serve apenas para ser apregoada da boca para fora. Uma complementaridade que nos obriga a questionar que tipo de complementaridade é que queremos para os aeroportos do triângulo? E no íntimo da nossa consciência, da nossa sensibilização para a obtenção da resposta, devemos com toda a certeza deixar o nosso “bairrismo” de lado para que possamos chegar a um verdadeiro veredicto, em que ambas as partes possam sair a ganhar e em que nenhuma saia verdadeiramente penalizada.

É que enquanto as duas ilhas e os dois aeroportos disputarem entre si quem tem o maior número de voos na óptica de poder e não na óptica da racionalidade e sustentabilidade, corremos o risco de ver a oferta para o triângulo acabar por encurtar, diminuindo com ela os voos com ligação directa a Lisboa no somatório do conjunto da oferta Faial e Pico. Pondo em causa não só a nossa acessibilidade ao exterior, mas o acesso dos turistas às nossas ilhas o que põe em causa todo o investimento no sector do turismo que até agora foi efectuado. A mim, como habitante do Pico, mas acima de tudo do triângulo, interessa-me é ter o maior número possível de ligações directas a Lisboa, um maior número de ligações que acima de tudo garantam a sustentabilidade deste destino que é o triângulo!



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