Duas greves, uma greve, meia greve... nenhuma greve!
O
objectivo principal da greve é de lesar a sua entidade patronal por via da
redução dos seus rendimentos, provocando uma diminuição nos ganhos esperados
dos acionistas o que consequentemente, coloca uma certa pressão para a
administração aceitar entrar em negociação com os trabalhadores de modo a
evitar novas greves. Mas será que isso é sempre assim?
Muitas
vezes, a concertação de esforços que é necessária para executar uma greve pode
não ter o seu efeito desejado, e isso acontece pois o “plano” da greve pode não
estar adequado à realidade da empresa ou do sector onde o mesmo está a ser
aplicado, e isso, a meu ver, é o caso que temos na Greve dos trabalhadores da
Atlânticoline.
Antes
de qualquer explicação ou “dissertação” sobre esta questão, apraz-me dizer que
sou um grande defensor dos direitos dos trabalhadores, dos sindicatos e das
lutas que diariamente estes travam para poder “garantir” melhores condições de
trabalho. Logo, sou inteiramente a favor da luta dos trabalhadores da
Atlânticoline não os condenando pelos seus ideais mas sim, pelo “plano” que
traçaram para poder impor um inicio de uma negociação.
Se
analisarmos bem a questão da Atlânticoline, os serviços mínimos garantem três
viagens diárias entre Madalena e a Horta nos horários das 08h15m, 18h00m e
21h00. E se quisermos analisar friamente, devemo-nos primeiramente questionar
onde é que a empresa saiu penalizada ou prejudicada! É que à primeira vista, a
empresa só saiu “beneficiada” com a greve, pois poupou os custos do combustível
com as viagens que deixou de fazer tornando os únicos penalizados as pessoas
que utilizam os transportes para o seu dia-a-dia. Como?
1.
Quem tinha consulta no Hospital às 15horas, teve
de ir na viagem das 08h15m, perdeu uma manhã e gastou dinheiro em refeições que
de outra forma não seria necessário despender;
2.
Quem tinha consulta às 09h00m só pôde regressar
na viagem das 17h15m, obrigando os utentes a passar um dia inteiro no Faial, e
mais uma vez aumentando os custos inerentes à sua deslocação,
3.
Quem saiu do turno da manhã e mora na ilha
vizinha viu-se obrigado a só poder voltar a casa à tarde apanhando a lancha das
17h15 ou das 18:00m dependendo do destino (Pico ou Faial);
4.
Quem começava a trabalhar no turno das 16h00m
viu-se obrigado a ter de ir para a ilha vizinha na viagem das 07:30m ou das
08:15 dependendo do destino (Pico ou Faial);
5.
Como independentemente das horas a empresa
conseguiu ter sempre uma viagem de regresso, a mesma não é obrigada a
indemnizar os passageiros em nada, nem refeições, nem estadias, nem outro
qualquer “custo”;
6.
A Atlânticoline é monopolista no transporte de
passageiros marítimos no triângulo e não havendo alternativa, os passageiros
não têm outra coisa a fazer a não ser esperar pela viagem disponível, o que
significa que a empresa não perdeu sequer 1€, pois os bilhetes foram comprados
na mesma quantidade que seriam no caso de haver mais viagens;
7.
Se quisermos incluir mais um ponto de
“discussão”, mais propriamente o boicote às festas do triângulo, verificamos
que ao darem por terminada a greve às 24h00m do dia 08 de Julho de 2018
(Domingo), deixaram aberta a questão da “Viagem extraordinária” da madrugada de
segunda-feira com saída das Velas às 02:10, o que significa também, que de
Domingo para Segunda-feira, a Atlânticoline teve uma viagem para trazer quem
quis ir ao Festival das Velas!
E é
nesta análise que volto a colocar as questões:
A
empresa ficou prejudicada onde?
Onde
é que a Greve criou um maior poder negocial para os trabalhadores?
Mais
uma vez, e no meu simples entender, não aumentou em nada nem deu poder aos
trabalhadores, mas muito pelo contrário, o que significa que esta concertação
de esforços e a penalização que os utilizadores sofreram foi infelizmente,
apenas fogo de vista, numa greve que
acabou por não cumprir os reais objetivos da greve!
Comentários
Enviar um comentário