Aeroporto do Pico: “Não batam mais no ceguinho!”
“Não batam mais no ceguinho!” Esta expressão idiomática de carácter popular podia muito bem ser direcionado para o problema que se vive atualmente na ilha do Pico.
Este vírus, tal como Saramago o descrevia no seu livro “Ensaio sobre a Cegueira”, é algo que tem acompanhado os picoenses durante a sua luta para maiores e melhores acessibilidades aeroportuárias da ilha. Esta parca visão dos decisores, talvez mais “cegueira mental” do que propriamente física, “faz com que não reconheçamos o que temos pela frente” quando analisamos o fenómeno Pico no panorama Regional, Nacional e Internacional. Como poderemos nós deixar de ver o crescimento (em comparação com período homólogo) do tráfego aéreo de passageiros em valores superiores a 12% nos passageiros desembarcados e nos passageiros embarcados? Como poderemos nós, negligenciar as taxas de ocupação dos voos de e para o Pico?
Sistematicamente, vemos esbarradas as pretensões à necessidade de implementar mais e melhores acessos, e espantem-se, mas com a melhoria exigida não seria apenas e só a ilha montanha quem usufruiria... A rota “Pico”, é uma rota autossuficiente, sustentável e lucrativa. É uma rota que poderia muito bem ser utilizada para “suportar” operações de outras rotas menos promissoras e menos rentáveis. Mas, incrivelmente, e ao contrário do que se esperava face à aposta da anterior administração da SATA, o Pico sofre agora um retrocesso e passa novamente a ter voos circulares com a ilha Terceira.
Mas o que leva a SATA a tomar
tais medidas?
É nesta dúvida e incompreensão
que os Picoenses ultimamente se encontram. Pois, além de não apresentar uma
racionalidade social, económica ou futurista, a mesma acaba mesmo não por
“castrar”, mas por complicar todo o esforço da ilha montanha na sua caminhada
“económica”. É que ao falarmos do Pico falamos da segunda maior ilha açoriana,
a que mais carne IGP produz, a que tem a maior área de produção de vinho de
valor acrescentado, a que exporta pinças de caranguejo real para Hong Kong, a
que produz a manteiga mais conceituada no mundo da gastronomia, a que tem o
maior santuário de cachalotes para observação e a que tem como referencia o
ponto mais alto de Portugal e uma das maiores grutas da Europa.
A força e o querer chegar ao Pico
é tão grande que não serão certamente os voos circulares que vão bloquear o
crescimento impar, trabalhoso e sofrível que o Pico tem conseguido atingir.
Somos compreensíveis quanto à necessidade de aguardar pelo novo Quadro
Comunitário para a ampliação do aeroporto, ou mesmo, pelo novo Quadro
Comunitário para começarmos a evidenciar esforços para a possível exigência
desta obra ou dos estudos que a devem preceder, contudo, não podemos ser também
“tão benevolentes” quando promovem retrocessos no panorama dos transportes
aéreos, como é por exemplo o caso do recuo da SATA nos seis voos semanais
(ligação direta com Lisboa) que haviam sido prometidos para 2019!
Não quero entrar em comparações
com mais nenhum destino açoriano pois considero que o Pico é por si só um
motivo mais que justificável para toda a exigência popular, que de forma
pautada, sustentada e coerente se tem feito.
E termino novamente com Saramago,
é que “se podes olhar, vê. Se podes ver,
repara”. Ou será assim tão difícil de reparar e olhar com seriedade para o
a Ilha Montanha? É que não quero acreditar que seja medo, mas a verdade, “é que o medo cega ... o medo nos cegou, o
medo nos fará continuar cegos.”
Post Scriptum: Artigo publicado na edição de 06 de Dezembro de 2018 do jornal centenário "O Dever" das Lajes do Pico
Excelente reflexão, Álvaro!
ResponderEliminarO ceguinho continua a levar na cabeça, mas ainda tem-se aguentado com todos estes constrangimentos.