Carta Aberta a Alexandra Borges!






Exma Sra. Alexandra Borges,

Demorei a conseguir tecer algum comentário à sua célebre investigação que passou na TVI sobre a SATA. Demorei, porque fiquei incrédulo com tamanha falta de conhecimento daquilo que viria a traduzir-se numa verdadeira falta de respeito pelos habitantes, pela região, e acima de tudo, pelas reais preocupações de quem vive e lida diariamente com a insularidade.


A investigação pela qual todos nós ansiosamente estávamos à espera, acabou, perante o olhar atento de centenas de açorianos, por se tornar numa verdadeira distorção dos reais problemas. No fundo, e para quem não conhece a realidade açoriana, a imagem que a investigação conseguiu passar é que esta é uma região “atrasada”, de “coitadinhos”, e de quem não sabe bem o que quer ou o que pretende com as suas reivindicações. Motivo que me leva a crer que a investigação acabou por falhar redondamente o seu propósito, ou quem sabe, talvez não...

Mas voltemos ao assunto principal...

A meu ver, e como para bom entendedor meia-palavra basta, temos que desmistificar que a preocupação do triângulo e das suas acessibilidades aéreas não ficam apenas no aeroporto da Horta, que digamos que por sinal, até é aquele que no triângulo tem melhores condições de acessibilidades. Por isso mesmo, julgo e creio, que o esquecimento de se ouvir as vozes daqueles que maiores preocupações têm, isto é, os jorgenses e os picoenses, tornou-se praticamente inadmissível. É que se ter nove voos semanais (ligação direta com Lisboa) é sinal de preocupação no constrangimento ao investimento e ao turismo e ao bem-estar da população, o que podemos dizer de uma ilha que só tem quatro voos semanais (ligação direta com Lisboa) no verão IATA e dois voos semanais (ligação direta com Lisboa) em período de inverno? Ou, o que dizer daqueles que nenhuma ligação direta têm com Lisboa como é o caso dos nossos vizinhos jorgenses? Mas para essas análises as câmaras não apontaram, e infelizmente, muito do que havia para ser dito ficou por se dizer, enfumaçando qualquer oportunidade de mostrar a realidade que tendencialmente acabou por ser esquecida.

Mas julgo poder ir ainda mais longe nesta análise, falaram na grande maioria do tempo em “verdadeiros casos de polícia”, mas aceitaram passar na vossa investigação a exigência e o aumento do aeroporto da Horta sem nunca mencionarem o aumento do aeroporto do Pico, que por sinal, também foi alvo de uma exigência popular. Aceitaram dar voz a uma exigência em detrimento de outra, e aqui diga-me, como chamaria, segundo as vossas análises, a um investimento do Governo Regional dos Açores a um aeroporto gerido por uma empresa privada em detrimento de um possível investimento num aeroporto gerido pela própria região?  Ainda para mais, quando o valor mais baixo do investimento no aeroporto “gerido” por uma empresa privada corresponde ao dobro do necessário no aeroporto gerido pela região? Provavelmente, voltariam a chamar de “um verdadeiro caso de polícia!”

Compreendem agora a necessidade de ouvir os três eixos do triângulo que tanto aclamaram para as vossas audiências?

Mas, permita-me também colocar em causa, pelo menos, duas afirmações existentes na passagem da investigação em pleno jornal de horário prime. A primeira, uma afirmação que não poderia de maneira nenhuma deixar passar em branco. Uma afirmação, que colocou em causa o valor não só do Pico e do seu destino turístico, mas de todo o triângulo a que tantas pessoas têm aclamado como “mágico”. É que quando um turista aterra, por exemplo, no Pico, consegue ter o melhor de vários mundos à sua disposição. Tem acesso a subir a montanha mais alta de Portugal e aclamada em 2010 como uma das 7 Maravilhas Naturais de Portugal, de visitar um dos maiores santuários de cachalotes do mundo, de visitar a Paisagem da Cultura da Vinha da Ilha do Pico classificada como paisagem protegida da Unesco, de provar da melhor carne e do melhor vinho que se produz não só nos Açores mas de todo mundo, ou, de provar a gastronomia que ficou eternizada ao ser eleita como uma das 7 Maravilhas à Mesa de Portugal, fora tantas outras coisas só possíveis de encontrar em verdadeiros paraísos como este! Por isso, quando afirma que os cerca de mil euros gastos por turista em média são uma “afronta” quando comparados com os “destinos paradisíacos”, só lhe posso dar razão, pois em boa verdade e em comparação, o destino Pico deveria ser muito, mas muito mais caro! Todo este luxo natural que o Pico nos proporciona tem de ser pago, e esse “espirito” de pequenez  que subsiste na mentalidade dos portugueses aqui, deve e tem de ser esquecido.

A segunda afirmação, surge no debate que sucedeu à sua investigação e que desde já, lamento novamente o caminho seguido! É que esse sentimento “obsessivo” que o território continental é que sustenta a Região Autónoma dos Açores já é “obsoleto” e deprimente, até para mim que sou continental! No fundo, essa vontade de fazer “jornalismo sangrento”, à custa de tudo e todos, deitou por água tudo aquilo pelo que diariamente lutamos, pelo que exigimos e por tudo aquilo em que acreditamos, ainda para mais, quando tendencialmente inclinam o “triângulo” apenas no sentido de uma das suas extremidades, negligenciando, “quase que propositadamente”, as outras extremidades. Mas, e para finalizar, deixe-me que lhe diga também que do Pico, pouco ou nada se ficou a saber, e as alternativas que apresentamos diariamente, e que simplesmente a sua investigação “desprezou”, são bastante passíveis de resultados positivos e com impacto imediato nas disponibilidades aéreas do aeroporto em que tanto se focou! Mas certamente que isso não seria o caminho a seguir, pois isso transformaria a sua investigação numa outra história completamente diferente! 

Comentários

  1. Excelente análise e iniciativa! Forte abraço!

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  2. Muito bem, só espero que esta magnífica carta/análise seja lida por quem de direito sabendo de antemão que não vai alterar nada e que a TVI não se vai retratar.

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    1. Obrigado pela sua mensagem José Costa.

      Esperemos que chegue a quem de direito. Mas para que isso aconteça é necessário que todos os que concordam com a carta/análise a partilhe!

      Um grande abraço

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  3. Completamente de acordo com a carta de Ivo Sousa e ,ao mesmo tempo, agradecido pela mesma.Bem haja.

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    1. Boa Noite,

      A Carta Aberta não é da autoria do Dr. Ivo Sousa, mas si do autor deste blog.

      Em todo o caso, agradeço na mesma o seu incentivo.

      Um bem haja.

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