Ainda sobre o “rescaldo” das eleições Legislativas nos Açores!




Qualquer que seja a abordagem para uma análise dos resultados das eleições Legislativas 2019, deverá sempre começar por aquilo que mais uma vez se evidenciou, a estrondosa percentagem da abstenção!


É certo, que em termos regionais, as eleições legislativas passam mais despercebidas que as Regionais ou as Autárquicas, o que de certa forma, somado à constante desatualização dos cadernos eleitorais, ao número de emigrantes que se encontram inscritos nos cadernos eleitorais, ou aos estudantes que apesar da existência do voto à distância poucos serem aqueles que realmente o utilizam,   ser a razão de atingirmos valores tão elevados de abstenção. Não que seja desculpável, que não o é, mas sempre esclarece e desmistifica uma realidade que não é apenas a do “deixa andar”. Mas mesmo assim, nada justifica o crescimento da abstenção que passou de 58,78% em 2015 para 63,50% em 2019 a nível regional, a não ser a possível “quebra” da confiança na classe política nacional, levando os eleitores a privarem-se daquela que é, sem qualquer margem para duvida, a nossa maior conquista de Abril. Abdicar do voto ou do ato de votar, é, para além de retirar qualquer legitimidade individual para a “critica”, é dar aso ao aparecimento de partidos que podem distorcer toda a natureza democrática que com os seus defeitos, continua a ser aquela que melhor resultado pode dar a todos os cidadãos!

Mas, daqueles que se dignaram a prestar e a realizar o seu dever cívico, que ilações políticas podemos tirar da realidade regional?

Em termos políticos, o Partido Socialista (PS) “ganha” a Ilha de São Jorge ao Partido Social Democrata (PSD) que nestas eleições (2019) conquistou apenas a Ilha do Pico, perdendo por isso mesmo quase 6% do seu eleitorado açoriano (36,03% em 2015 para 30,21% em 2019).  O PS, por seu lado, manteve-se nos 40%, o que significa que os 6% do PSD foram conquistados na sua maioria pelos “novos” partidos, nomeadamente, o PAN (2%), a Aliança (0,88%), o Livre (0,85%), o Chega (0,85%) ou mesmo o Partido Liberal (0,68%). Por outro lado, o CDS, ao contrário da realidade nacional, nos Açores aumentou quase 1%.

Comparação da percentagem de votos nas duas últimas eleições legislativas dos partidos mais votados nos Açores (2015 e 2019)


No Pico, e à imagem das legislativas anteriores, a força política mais votada foi o PSD que venceu com cerca de mais 0,88% que o segundo partido mais votado, o PS. O que se traduziu numa vitória que traz consigo um ligeiro “sabor” a derrota, principalmente, porque apercebemo-nos que o PSD, quando comparado com os resultados de 2015, foi o partido político que maior queda deu ao perder quase 5% do seu eleitorado picoense.

Variação da percentagem de votos obtidos pelos partidos mais votados na Ilha do Pico entre as eleições legislativas de 2015 e 2019.


Em relação aos concelhos, a grande alteração surge nas Lajes do Pico, que passa a ser PS quando em 2015 era maioritariamente PSD com quase mais 2% que o PS. Uma alteração que surge principalmente da vitória do PS na freguesia das Ribeiras, juntando-a à freguesia das Lajes e da Ribeirinha (freguesias que em 2015 já haviam votado PS). Mas apesar da vitória, a verdade é que o Partido Socialista vê também cair a sua percentagem de votos em quase 2% entre 2015 e 2019, permitindo que partidos como o Bloco de Esquerda ou o PAN duplicassem a sua percentagem de votos. Realidade idêntica aconteceu também nos concelhos da Madalena ou de São Roque, com este último a ser onde o PSD caiu mais de 7%! Já no concelho da Madalena, o PS "conquista" a freguesia das Bandeiras que em 2015 havia votado maioritariamente PSD. Em termos de abstenção, as Lajes foi o concelho que mesmo assim, do mal, teve a menor taxa de abstenção com 58,43% e com os restantes concelhos do Pico a terem taxas de abstenção superiores a 60%.

Agora, mais importante que a leitura destas percentagens, é perceber agora o trabalho árduo que o PSD e o PS têm de fazer para compreender e entender o que levou a que as duas maiores forças políticas da região perdessem votos para partidos como o Bloco de Esquerda, PAN ou mesmo o Chega. Pois ao contrário do que vem sendo dito nas redes sociais, os picarotos, apesar de mostrarem a sua indignação com a governação do PS, mostraram também que o PSD é cada vez menos alternativa! No fundo, fica a ideia que parte do eleitorado começa a desacreditar nos partidos de centro, sejam eles de esquerda ou de direita, e que começa a existir a necessidade de repensar a política tal como ela é, sob risco de vermos a nossa democracia morrer antes mesmo dela saber “andar”!



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