SATA - Um avião, um semirrígido e uma novela


Que vergonha foi aquela com os turistas no Domingo (30 de Julho de 2017)?


Com o cancelamento do voo que ligava Lisboa à Horta do dia 29 de Julho de 2017, os passageiros acabaram por ter sido realocados num voo da tarde do dia seguinte (30 de Julho de 2017). Como já
vem sendo hábito para quem habita por estas bandas, os atrasos e as alterações voltaram a dar-se no voo de domingo, obrigando com que os passageiros fizessem uma escala na ilha Terceira antes de chegarem à Horta. Com todos os imprevistos e sucedidos, os passageiros que “compraram” o bilhete Lisboa – Horta e que tinham como destino final a ilha do Pico, não conseguiram chegar a tempo de apanhar a última lancha pois a sua chegada aconteceu perto das 23h.
A SATA, segundo o seu Presidente, e de modo a minimizar o impacto aos passageiros, fretou um semirrígido que fez o transporte dos passageiros que queriam chegar ao Pico nessa mesma noite. No final, o grupo de turistas a quem a SATA pretendeu “exceder as expectativasacabou mesmo por não gostar e colocar em causa não só o «turismo regional» mas principalmente o Turismo do Triângulo.


É certo que de acordo com Regulamento (CE) n.° 261/2004 doParlamento Europeu e do Conselho, de 11 de Fevereiro de 2004, a SATA, após o desembarque dos passageiros na Horta, não tem qualquer obrigação para com estes no que confere ao acesso à ilha do Pico. Foi um “triste e infeliz episódio” que nunca devia ter acontecido, mas não nos podemos esquecer que o “trajeto” adquirido por estes passageiros à SATA foi Lisboa – Horta e não Lisboa – Pico.

Mas o que levou uma agência turística inglesa com mais de 40 turistas que queriam visitar o Pico a adquirirem as rotas da SATA com destino a Horta?


De forma a tentar perceber esse já tão conceituado padrão, comecei a pesquisar viagens para o mês de Agosto a partir do seu primeiro fim de semana (05/08/2017) entre Lisboa – Pico e Lisboa Horta, e constatei que em 27 dias possíveis de viagem a Ilha do Pico tem 70% dos dias com disponibilidade de lugares nos seus voos e que a Horta tem 81% dos dias nessas mesmas condições, algo que me gerou alguma confusão pois não permite nenhuma conclusão!
Mas se abordarmos as disponibilidades de uma forma mais “microscópica”, verificamos que afinal, o Pico desses 27 dias tem 41% dos dias com disponibilidade inferior a 2 lugares, 4% apenas como classe executiva, 7% que obriga os passageiros a pernoitar em São Miguel ou na Terceira. O Faial, apesar de em menor número, sofre também em parceria com a realidade do destino Pico, e do seu total de dias detém 11% dos mesmos com disponibilidade em classe executiva, 7% que obriga os passageiros a pernoitar em São Miguel ou Terceira e 4% dos dias com disponibilidade inferior a 2 lugares. Se excluirmos estes “pequenos” condicionalismos, verificamos que o Pico passa a deter apenas 19% dos dias com disponibilidade superior a 3 lugares e que o Faial passa a deter 59%.

Mas o que leva o destino Pico a ter uma menor taxa de dias disponíveis com disponibilidades superiores a 3 lugares em relação ao Faial?


Numa primeira instancia dir-se-ia que os preços do Pico são mais apelativos e que por esse mesmo motivo esgotam-se mais depressa, mas será mesmo assim?

De forma a eliminar qualquer dúvida, voltei às simulações efetuadas para o mês de Agosto e decidi que em todos os dias escolheria o voo disponível que mais pudesse satisfazer os passageiros, isto é, que demorasse menos tempo a chegar ao seu destino.

Logo nesta primeira abordagem, foi possível verificar que a média dos voos disponíveis são viagens de 02h45m para o Faial e de 05h32m para o Pico, isto é, cerca de mais 3 horas que o passageiro que escolha o Pico fica fechado em aeroportos e aviões (voos de menor duração excluindo os voos que obrigam a permanecer uma noite noutra ilha).


Mas e os preços?


Os preços também têm algumas diferenças. A média de preços em Agosto para a rota Lisboa - Pico é de 181,71€, e da rota com destino ao Faial é de 127,39€, isto é, uma diferença de 54,32€ por passageiro.

Mas se tomarmos em atenção as características dos voos, verificamos que esse valor altera ainda mais quando analisamos o custo do voo direto.

Data do Voo Direto
Pico
Faial
06 de Agosto
n/a
241,51€
07 de Agosto
241,51€
n/a
08 de Agosto
n/a
175,51€
09 de Agosto
261,51€
175,51€
10 de Agosto
n/a
118,51€
11 de Agosto
n/a
118,51€
12 de Agosto
241,51€
175,51€
13 de Agosto
n/a
118,51€
14 de Agosto
175,51€
175,51€
15 de Agosto
n/a
118,51€
16 de Agosto
241,51€
118,51€
17 de Agosto
n/a
98,51€
18 de Agosto
n/a
78,51€
19 de Agosto
271,51€
98,51€
20 de Agosto
n/a
98,51€
29 de Agosto
n/a
78,51€
30 de Agosto
118,51€
98,51€
31 de Agosto
n/a
78,51€
Média Preço
221,65€
132,63€

Logo o primeiro impacto nesta análise é a diferença entre o custo médio destes dois destinos, é que nestes voos específicos e à data de hoje (01/08/2017) o preço médio de quem quer viajar para o Pico é cerca de 90€ mais caro do que quem quer viajar para o Faial. Mas o preço médio acaba por ser inclusivamente benéfico para o destino Faial, pois quando os dois destinos recebem voos diretos no mesmo dia (com exceção do dia 14 de Agosto) a viagem para o Pico é sempre mais cara que a viagem para o Faial, e chega mesmo a atingir quase 180€ de diferença no preço por passageiro, e note-se que falamos de voos diretos com a mesma duração de tempo, isto é, 02h45m por viagem.

Mas assim tudo fica mais confuso?


Pois fica!  É que se analisarmos o preço das viagens com a lei da oferta e da procura, podemos mesmo afirmar que o Pico tem maior procura, logo, quem quer viajar paga mais por isso. Mas de acordo com essa mesma "lei" a oferta deveria de se adequar até chegar a um ponto de equilíbrio entre o número de voos disponíveis e o número de passageiros que o querem adquirir, permitindo assim uma oferta mais benéfica para todas as partes.

Mas, se o Pico tem maior procura porque motivo é que o aeroporto do Pico não tem um aumento das ligações como teve por exemplo, o aeroporto do Faial?



Essa é uma verdade que esperemos que se resolva, é que se o Pico tivesse disponibilidade de voos a um preço “idêntico” aos praticados por voos de iguais condições tal como seria expectável, os passageiros (turistas) que queriam vir para o Pico tinham como cá chegar, sem novelas, sem enredos e sem terem que apanhar um “semirrígido”. Mas no fundo, até é de estranhar essa abordagem por parte da SATA, porque se fossem picarotos a hipótese do “semirrígido” já não se punha e lá tinham os passageiros que ir dormir ao Hotel Canal.



Leitura aconselhada sobre o mesmo tema:

http://www.caisdopico.pt/2017/08/eis-o-novo-pit-o-plano-invertido-dos.html#disqus_thread

Comentários

  1. Álvaro, excelente estudo a mostrar porque a rota Lisboa-Pico tem um preço mais elevado face a outras rotas.
    Esperemos que esta novela não tenha novos episódios!
    Haja saúde!

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    1. Muito obrigado Ivo.
      Esperemos que tenha sido um ato isolado.
      Esta imagem não é boa para nenhuma das ilhas do triângulo!

      Um abraço

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